Os gráficos fundamentais para entender a pandemia no Brasil
A tragédia da pandemia no Brasil atingiu números tão alarmantes que fica cada vez
mais difícil dimensionar as mortes que acontecem no país e ainda por cima compará-las ao
resto do mundo. Mas só para vocês terem uma ideia, em abril
de 2021, o Brasil bateu um recorde trágico na pandemia, com 4.249 mortes por covid registradas
em apenas 24 horas. É mais que o dobro do registrado um mês
antes. Esse patamar diário é tão alto que ele
supera o que 133 países registraram, separadamente, durante a pandemia inteira.
E não estou falando só de nações pequenas, mas de lugares como a Nigéria, que tem quase
a mesma população do Brasil. Eu sou Matheus Magenta, repórter da BBC News
Brasil aqui em Londres, e hoje eu vou falar de alguns dados que mostram a grave situação
do Brasil em relação ao número de mortes e de vacinação.
E já posso adiantar que, primeiro, nunca morreu tanta gente no país, e ainda pode
piorar, com muitos morrendo em filas de UTIs de hospitais em colapso, e escassez de medicamentos,
oxigênio e profissionais de saúde. E segundo, que a vacinação tem conseguido
avançar a passos lentos, bem longe da capacidade do país.
Vamos aos números. Pessoas que negam a gravidade da situação
no Brasil costumam usar dados proporcionais e dados absolutos.
Ou seja, usam um método para dizer que não morre tanta gente assim de covid, e outro
para dizer que o país vacina mais que quase todos no mundo.
Neste vídeo nós vamos apresentar comparações que levam em conta o tamanho da população.
Atualmente, em média morrem quase 12 mil pessoas por dia no mundo por covid. E pouco
mais de 3.000 estão no Brasil. Ou seja, o Brasil tem 2,7% da população mundial, mas
concentra 26% das mortes. Em 8 de abril, dia do recorde de mortes, foram
registrados 4.249 óbitos por covid. Para vocês terem uma ideia, em março morreram
mais pessoas de covid no Brasil do que em 109 países juntos durante a pandemia inteira.
E na comparação separada? Quantas mortes são registradas a cada 1 milhão de habitantes
no Brasil e em outros lugares do mundo? É possível analisar isso de duas formas:
na pandemia inteira e no momento atual. Considerando 1 ano de pandemia, o Brasil está
em 15º no ranking de mortes por milhão, atrás de nações como Bélgica, Estados
Unidos, Itália e Reino Unido. Mas a situação brasileira tem piorado rapidamente:
em janeiro, o país estava em 24ª lugar. Se formos analisar apenas os dados mais recentes,
de meados de abril, o Brasil está em sexto no ranking.
Até agora, o Ministério da Saúde registrou mais de 350 mil mortes por covid no Brasil.
Mas esse número é incompleto e desatualizado, porque demora para os dados entrarem no sistema.
Por isso, pesquisadores analisaram dados oficiais de hospitais brasileiros e calcularam que
o país, na verdade, não registrou 350 mil mortes, mas quase 500 mil já.
A situação socioeconômica também tem se agravado, com desemprego e inflação crescentes.
E ainda: pela primeira vez em 17 anos, mais da metade da população não sabe se conseguirá
ter comida no prato todos os dias, segundo levantamento da Rede Brasileira de Pesquisa
em Soberania e Segurança Alimentar. Como quase todos sabem, a principal porta
de saída para essa crise é a vacinação. E como eu disse, praticamente todos os dados
que tratam da pandemia no Brasil são questionados, comparados, recortados ou distorcidos desde
que a doença chegou oficialmente ao país, em fevereiro de 2020.
Como 4 mil mortes por dia são atualmente incontornáveis, inquestionáveis, as críticas
ao governo de Jair Bolsonaro e os contrapontos de seus defensores têm se concentrado no
desempenho brasileiro na vacinação. Afinal, o Brasil vacina pouco ou muito?
Defensores do governo Bolsonaro costumam repetir o número total de doses que cada país aplicou.
Nessa comparação, o Brasil aparece em quinto lugar no ranking global de dados oficiais
compilados pela Universidade de Oxford, aqui do Reino Unido.
Um patamar esperado para o sexto país mais populoso do mundo.
Mas como essas próprias pessoas defendem quando o caso são o número de mortes, a
comparação deve levar em consideração o tamanho da população.
E nesse caso, o Brasil aparece em 75º entre 166 nações e territórios no mundo.
A comparação pode ser feita também com o próprio Brasil.
O Ministério da Saúde afirma ter capacidade de vacinar 2,4 milhões por dia.
Há uma década, o Brasil imunizou na pandemia de H1N1, por exemplo, quase 80 milhões de
pessoas em três meses. Mas até meados de abril de 2021, o Brasil
só superou três vezes a marca de 1 milhão de vacinados em 24h.
Acelerar isso esbarra em um problema que quase todos os países do mundo enfrentam: falta
de vacinas. No caso brasileiro, isso se agravou porque
o governo Bolsonaro recusou sucessivas ofertas da Pfizer, apostou todas as fichas na vacina
AstraZeneca-Oxford, ameaçou boicotar a Coronavac por disputas políticas com o governo de São
Paulo e só decidiu comprar outras vacinas quando a fila de países compradores já "dobrava
a esquina". No quesito velocidade de doses aplicadas diariamente
por cada 1 milhão de habitantes, o Brasil aplica cerca de 3700 doses, e aparece em 50º
lugar no mundo e 10º na América. E o que esperar daqui para frente?
Bem, no papel, o cronograma do Ministério da Saúde fala em 563 milhões de doses garantidas,
e prevê a entrega de 154 milhões delas no primeiro semestre de 2021, considerando apenas
vacinas aprovadas pela Anvisa: Coronavac, AstraZeneca-Oxford e Pfizer.
Mas esse cronograma já sofreu diversas modificações, sempre diminuindo a entrega no curto prazo,
e adiando ao longo do ano. A situação é tal que o governo Bolsonaro
chegou a dizer que não ia mais atualizar o cronograma, mas depois mudou de ideia.
Enfim, os dados têm apontado que a vacinação dos grupos prioritários no Brasil deve se
estender até o meio do segundo semestre de 2021, e só depois começariam a ser vacinados
em ordem decrescente os adultos de 59 a 18 anos, que não têm nem doenças pré-existentes
ou não são considerados de profissões essenciais. Mas como temos visto, tudo pode mudar, para
melhor ou para pior. Por isso, continue se atualizando sobre a
pandemia no nosso site bbcbrasil.com, no nosso canal do YouTube e nas nossas redes sociais.
Muito obrigado, até a próxima.