×

Nós usamos os cookies para ajudar a melhorar o LingQ. Ao visitar o site, você concorda com a nossa política de cookies.


image

BBC News 2021 (Brasil), Covid-19: o que se sabe sobre efeitos dos tipos sanguíneos em casos graves

Covid-19: o que se sabe sobre efeitos dos tipos sanguíneos em casos graves

Em março de 2020, médicos chineses revelaram informações sobre pacientes com covid-19

que até hoje intrigam cientistas.

Eles afirmaram em um estudo preliminar que “O tipo sanguíneo A se mostrou associado

a um risco maior de contrair a covid-19, enquanto o tipo sanguíneo O foi associado a um risco menor”

Eu sou Mariana Alvim, repórter da BBC News Brasil em São Paulo, e vou explicar neste

vídeo o que sabemos até agora sobre a relação entre a covid-19 e os tipos sanguíneos do

sistema conhecido como ABO.

Eu selecionei as principais conclusões de estudos sobre o tema no Brasil e no mundo

e conversei com especialistas, que espero que ajudem você a entender comigo essa questão.

É importante alertar que não há consenso científico sobre o assunto: enquanto alguns

estudos afirmaram que o sistema ABO pode ter influência na doença, outros negaram.

Então, ter um ou outro tipo sanguíneo não é por enquanto motivo para desespero e menos

ainda para descuido com as medidas preventivas.

Primeiro, de onde veio essa desconfiança de que nosso tipo sanguíneo pode fazer alguma

diferença?

Antes da covid-19, cientistas já consideravam que o tipo sanguíneo pode influenciar na

vulnerabilidde ou proteção a algumas doenças.

Já foram apresentadas evidências dessa influência para a malária, hepatite B, Aids, entre outras.

E mais importante: essa influência já tinha sido identificada no vírus Sars-Cov-1, um

parente do coronavírus atual que, nos anos 2000, provocou um surto que afetou alguns

países.

O sinal de alerta nessa pandemia foi aceso inicialmente quando médicos começaram a

perceber sinais intrigantes — inclusive no Brasil.

O hemoterapeuta Gil de Santis, do Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto, no Estado

de São Paulo, me contou que teve uma surpresa quando testava um tratamento chamado de plasma

convalescente, que transfere anticorpos presentes no sangue de quem já teve covid-19 para pessoas

com a infecção ativa.

Lá para agosto, setembro, alguns meses depois, eu percebi que tinha coisa muito esquisita

ali.

A gente tava...

Tinha que transfundir o plasma, tinha que tipar os pacientes para transfundir o plasma.

E percebi que tinha muito mais A do que O.

Havia uma inversão que não se observava na população, brasileira e mesmo local nossa

Eu não encontrei dados atualizados e consolidados da divisão sanguínea no Brasil, já que

é mais comum que hemocentros em diferentes cidades e estados façam esse levantamento

a nível local.

Mas, segundo os entrevistados, a maior parcela da população brasileira é do tipo O, seguido

do A; e depois vêm o B e AB, com parcelas bem menores.

A equipe do Gil de Santis comparou os tipos sanguíneos em um grupo de 72 pacientes graves

com a população local.

Os resultados iniciais mostraram que pessoas com tipo sanguíneo A têm um risco duas vezes

e meia maior de desenvolver a covid grave do que quem tem tipo O.

Os resultados completos devem ser publicados em breve em uma revista científica.

Já em Passo Fundo, no Rio Grande do Sul, a equipe de hemoterapia do Hospital São Vicente

de Paulo passou a observar uma maior demanda por transfusões de sangue do tipo A em pacientes

graves com covid-19.

A gente não tem como afirmar, porque a nossa amostra foi pequena, então foram 53 pacientes

num universo de 1200 contaminados, mas que precisaram de transfusão sanguínea; e comparada

com a demanda normal, que é 35% do grupo A, nós encontramos 47% nesses pacientes.

Então lógico que precisam de novos estudos, de estudos com maior amostras, para tentar

ter uma conclusão mais específica, mas realmente a gente encontrou uma prevalência um pouquinho

maior do que é o habitual no universo dos nossos pacientes

Os indícios no Brasil pareciam confirmar as informações do estudo chinês que eu

citei no início do video.

Importante lembrar que essa publicação não foi avaliada por outros cientistas, um procedimento

padrão de revistas de excelência.

Lá, os pesquisadores descobriram que o percentual de pessoas com tipo A foi maior no grupo de

infectados do que na população "normal" das cidades de Wuhan e Shenzen.

E que o de pessoas com tipo O foi menor entre os pacientes com covid-19.

Além disso, o risco de morte se mostrou maior no tipo A e menor no tipo O.

Mas nem todas pesquisas publicadas sobre o assunto tiveram resultados alinhados assim.

Um estudo com dados de mais de 100 mil pacientes nos Estados Unidos, publicado no início de

abril desse ano, afirmou que o tipo sanguíneo não fez diferença nem na infecção, nem

na hospitalização e internação em UTIs.

Os autores reconheceram que seus resultados foram contrários a pesquisas de várias partes

do mundo, o que pra eles pode ser explicado por amostras menores, populações com distribuição

de tipos sanguíneos diferentes e até infecções por diferentes cepas.

Já um trabalho de médicos de Boston, nos Estados Unidos, confirmou que pessoas com

tipos sanguíneos B e AB tinham maior probabilidade de receber um teste positivo para o coronavírus,

ou seja, confirmando a infecção.

Aquelas do tipo O tinham menor probabilidade.

E o tipo A, que segundo outros estudos é o mais vulnerável ao coronavírus, nessa

pesquisa não conseguiu se mostrar estatisticamente relevante, seja para a proteção ou vulnerabilidade

à infecção.

Esse estudo também relatou que o grupo sanguíneo pareceu não fazer diferença na propensão

a intubação ou morte.

Em outubro de 2020, um outro estudo, com dados nacionais da Dinamarca, confirmou que o tipo

O teve um efeito de proteção contra a infecção, mas o tipo sanguíneo não apresentou influência

no risco de hospitalização ou morte.

A Maria Amorelli me contou que, também no Hemocentro de Goiás, eles não conseguiram

confirmar a maior vulnerabilidade do tipo A para quadros mais graves.

A gente teve uma incidência de pacientes sendo internados com mais frequência no tipo

AB.

Mas a gente não conseguiu associar isso e fechar uma correlação estatística com os

pacientes do tipo A.

Então essa ideia de que todos os pacientes que não têm o anticorpo anti-A estariam

em maior risco, a gente não conseguiu confirmar isso.

Mas como assim anticorpo anti-A?

A médica me explicou que ter um tipo sanguíneo significa também ter anticorpos naturais

contra os outros tipos — um paciente com sangue tipo A tem anticorpo anti-B; um paciente

com sangue tipo B tem anticorpo anti-A; e um paciente com sangue tipo O tem anti-A e

anti-B Se isso se confirmar, quer dizer que esses

anticorpos acabam tendo outras funções além de vamos dizer lutar contra outros tipos de

sangue.

Então, sugere-se que talvez esse anti-A seja um efeito protetor para algumas doenças virais.

Então pacientes do grupo sanguíneo O estariam mais protegidos em relação a algumas doenças

virais por esse anticorpo poder atuar ali, dificultando a entrada do vírus na célula.

Quem é do tipo sanguíneo A não precisa se desesperar em relação a isso, então

vários pacientes do tipo sanguíneo A tiveram doença leve também, tiveram quadros brandos;

e vários pacientes do tipo sanguíneo O também tiverem quadro graves.

Uma das pesquisas mais recentes e importantes

saiu em março, na revista científica Blood Advances.

Diferente dos estudos que vimos aqui, usando dados de pessoas da vida real, esse levou

os cientistas ao laboratório para observar, em nível microscópico, como proteínas do

coronavírus Sars-CoV-2 interagem com proteínas de células humanas antes de invadi-las, dando

início à infecção.

Existem proteínas que só alguns tipos sanguíneos têm: são os antígenos.

Um paciente do tipo sanguíneo A tem antígeno A; do tipo sanguíneo AB, antígeno A e antígeno

B.

Apenas no caso do O, não existe antígeno correspondente.

Os pesquisadores viram que o coronavírus tinha uma “forte preferência” em se ligar

ao antígeno A, particularmente aqueles presentes nas células respiratórias dos pulmões.

O mesmo não foi observado em células dos tipos sanguíneos B e O, também avaliadas.

O experimento demonstrou, nas palavras da equipe, uma "conexão direta entre o tipo

sanguíneo A e o SARS-CoV-2" e é uma "evidência adicional de que alguns tipos sanguíneos

podem estar associados a um risco maior de contrair a doença".

Eu troquei emails com um dos autores, o Sean Stowell, médico e pesquisador em um hospital

de Boston.

Eu perguntei a ele como podem existir resultados tão diferentes em pesquisas abordando o mesmo

tema.

O médico me respondeu que as diferenças podem ser explicadas, em parte, por metodologias

distintas e também pela dificuldade de se “isolar” apenas as variáveis tipo sanguíneo

e adoecimento — porque, no meio do caminho entre essas duas coisas, há fatores como

características populacionais e exposição a diferentes cargas virais.

Ele disse que seria preciso um estudo com uma população de pacientes com tipos sanguíneos

conhecidos e uma igual exposição ao vírus.

Mas como isso provavelmente nunca vai acontecer, ele acha que vai ser impossível saber se

o tipo sanguíneo de fato influencia ou não nos casos de covid-19.

Mesmo com as dúvidas e mais estudos por vir, os entrevistados me disseram que as descobertas

feitas aqui ajudam a entender a covid-19 de forma mais geral.

Eu perguntei para o Gil de Santis, do Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto, o que poderia

explicar melhor a relação entre tipos sanguíneos e covid: a possível vulnerabilidade do antígeno

A, ou a possível proteção fornecida pelo anticorpo anti-A, presente no tipo sanguíneo O?

Ele me respondeu que as duas explicações podem ser igualmente importantes, e se juntar

a uma terceira: problemas na coagulação, tão presentes nos casos mais graves da covid-19,

que têm também relação com o tipo sanguíneo.

Quem é do tipo O tem menos dois fatores da coagulação, a gente chama de 2 pró-coagulantes — tem

o nível mais baixo, e ele carrega fator VIII. Então tem o fator VIII e o fator de Willebrand,

que são diminuídos nos indivíduos do tipo O, em relação aos outros tipos

Portanto dois fatores que contribuem para a trombose, digamos assim, favorecem a trombose,

atuam para que ocorra a trombose, são diminuídos no indivíduo O em relação ao indivíduo A

Espero que esse vídeo tenha sido útil.

Eu aprendi muita coisa e espero que vocês também!

Se cuidem e até a próxima!

Covid-19: o que se sabe sobre efeitos dos tipos sanguíneos em casos graves Covid-19: Was ist über die Auswirkungen auf die Blutgruppe in schweren Fällen bekannt? Covid-19: what is known about blood type effects in severe cases Covid-19: lo que se sabe sobre los efectos de los tipos de sangre en casos graves Covid-19 : ce que l'on sait des effets du groupe sanguin dans les cas graves Covid-19: cosa si sa sugli effetti dei gruppi sanguigni nei casi gravi Covid-19: wat is er bekend over bloedgroepeffecten in ernstige gevallen Covid-19: o que se sabe sobre efeitos dos tipos sanguíneos em casos graves Covid-19: vad är känt om blodgruppseffekter i allvarliga fall

Em março de 2020, médicos chineses revelaram informações sobre pacientes com covid-19 Em março de 2020, médicos chineses revelaram informações sobre pacientes com covid-19

que até hoje intrigam cientistas.

Eles afirmaram em um estudo preliminar que “O tipo sanguíneo A se mostrou associado

a um risco maior de contrair a covid-19, enquanto o tipo sanguíneo O foi associado a um risco menor”

Eu sou Mariana Alvim, repórter da BBC News Brasil em São Paulo, e vou explicar neste

vídeo o que sabemos até agora sobre a relação entre a covid-19 e os tipos sanguíneos do

sistema conhecido como ABO.

Eu selecionei as principais conclusões de estudos sobre o tema no Brasil e no mundo

e conversei com especialistas, que espero que ajudem você a entender comigo essa questão.

É importante alertar que não há consenso científico sobre o assunto: enquanto alguns

estudos afirmaram que o sistema ABO pode ter influência na doença, outros negaram.

Então, ter um ou outro tipo sanguíneo não é por enquanto motivo para desespero e menos

ainda para descuido com as medidas preventivas.

Primeiro, de onde veio essa desconfiança de que nosso tipo sanguíneo pode fazer alguma

diferença?

Antes da covid-19, cientistas já consideravam que o tipo sanguíneo pode influenciar na

vulnerabilidde ou proteção a algumas doenças.

Já foram apresentadas evidências dessa influência para a malária, hepatite B, Aids, entre outras.

E mais importante: essa influência já tinha sido identificada no vírus Sars-Cov-1, um

parente do coronavírus atual que, nos anos 2000, provocou um surto que afetou alguns

países.

O sinal de alerta nessa pandemia foi aceso inicialmente quando médicos começaram a

perceber sinais intrigantes — inclusive no Brasil.

O hemoterapeuta Gil de Santis, do Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto, no Estado

de São Paulo, me contou que teve uma surpresa quando testava um tratamento chamado de plasma

convalescente, que transfere anticorpos presentes no sangue de quem já teve covid-19 para pessoas

com a infecção ativa.

Lá para agosto, setembro, alguns meses depois, eu percebi que tinha coisa muito esquisita

ali.

A gente tava...

Tinha que transfundir o plasma, tinha que tipar os pacientes para transfundir o plasma.

E percebi que tinha muito mais A do que O.

Havia uma inversão que não se observava na população, brasileira e mesmo local nossa

Eu não encontrei dados atualizados e consolidados da divisão sanguínea no Brasil, já que

é mais comum que hemocentros em diferentes cidades e estados façam esse levantamento

a nível local.

Mas, segundo os entrevistados, a maior parcela da população brasileira é do tipo O, seguido

do A; e depois vêm o B e AB, com parcelas bem menores.

A equipe do Gil de Santis comparou os tipos sanguíneos em um grupo de 72 pacientes graves

com a população local.

Os resultados iniciais mostraram que pessoas com tipo sanguíneo A têm um risco duas vezes

e meia maior de desenvolver a covid grave do que quem tem tipo O.

Os resultados completos devem ser publicados em breve em uma revista científica.

Já em Passo Fundo, no Rio Grande do Sul, a equipe de hemoterapia do Hospital São Vicente

de Paulo passou a observar uma maior demanda por transfusões de sangue do tipo A em pacientes

graves com covid-19.

A gente não tem como afirmar, porque a nossa amostra foi pequena, então foram 53 pacientes

num universo de 1200 contaminados, mas que precisaram de transfusão sanguínea; e comparada

com a demanda normal, que é 35% do grupo A, nós encontramos 47% nesses pacientes.

Então lógico que precisam de novos estudos, de estudos com maior amostras, para tentar

ter uma conclusão mais específica, mas realmente a gente encontrou uma prevalência um pouquinho

maior do que é o habitual no universo dos nossos pacientes

Os indícios no Brasil pareciam confirmar as informações do estudo chinês que eu

citei no início do video.

Importante lembrar que essa publicação não foi avaliada por outros cientistas, um procedimento

padrão de revistas de excelência.

Lá, os pesquisadores descobriram que o percentual de pessoas com tipo A foi maior no grupo de

infectados do que na população "normal" das cidades de Wuhan e Shenzen.

E que o de pessoas com tipo O foi menor entre os pacientes com covid-19.

Além disso, o risco de morte se mostrou maior no tipo A e menor no tipo O.

Mas nem todas pesquisas publicadas sobre o assunto tiveram resultados alinhados assim.

Um estudo com dados de mais de 100 mil pacientes nos Estados Unidos, publicado no início de

abril desse ano, afirmou que o tipo sanguíneo não fez diferença nem na infecção, nem

na hospitalização e internação em UTIs.

Os autores reconheceram que seus resultados foram contrários a pesquisas de várias partes

do mundo, o que pra eles pode ser explicado por amostras menores, populações com distribuição

de tipos sanguíneos diferentes e até infecções por diferentes cepas.

Já um trabalho de médicos de Boston, nos Estados Unidos, confirmou que pessoas com

tipos sanguíneos B e AB tinham maior probabilidade de receber um teste positivo para o coronavírus,

ou seja, confirmando a infecção.

Aquelas do tipo O tinham menor probabilidade.

E o tipo A, que segundo outros estudos é o mais vulnerável ao coronavírus, nessa

pesquisa não conseguiu se mostrar estatisticamente relevante, seja para a proteção ou vulnerabilidade

à infecção.

Esse estudo também relatou que o grupo sanguíneo pareceu não fazer diferença na propensão

a intubação ou morte.

Em outubro de 2020, um outro estudo, com dados nacionais da Dinamarca, confirmou que o tipo

O teve um efeito de proteção contra a infecção, mas o tipo sanguíneo não apresentou influência

no risco de hospitalização ou morte.

A Maria Amorelli me contou que, também no Hemocentro de Goiás, eles não conseguiram

confirmar a maior vulnerabilidade do tipo A para quadros mais graves.

A gente teve uma incidência de pacientes sendo internados com mais frequência no tipo

AB.

Mas a gente não conseguiu associar isso e fechar uma correlação estatística com os

pacientes do tipo A.

Então essa ideia de que todos os pacientes que não têm o anticorpo anti-A estariam

em maior risco, a gente não conseguiu confirmar isso.

Mas como assim anticorpo anti-A?

A médica me explicou que ter um tipo sanguíneo significa também ter anticorpos naturais

contra os outros tipos — um paciente com sangue tipo A tem anticorpo anti-B; um paciente

com sangue tipo B tem anticorpo anti-A; e um paciente com sangue tipo O tem anti-A e

anti-B Se isso se confirmar, quer dizer que esses

anticorpos acabam tendo outras funções além de vamos dizer lutar contra outros tipos de

sangue.

Então, sugere-se que talvez esse anti-A seja um efeito protetor para algumas doenças virais.

Então pacientes do grupo sanguíneo O estariam mais protegidos em relação a algumas doenças

virais por esse anticorpo poder atuar ali, dificultando a entrada do vírus na célula.

Quem é do tipo sanguíneo A não precisa se desesperar em relação a isso, então

vários pacientes do tipo sanguíneo A tiveram doença leve também, tiveram quadros brandos;

e vários pacientes do tipo sanguíneo O também tiverem quadro graves.

Uma das pesquisas mais recentes e importantes

saiu em março, na revista científica Blood Advances.

Diferente dos estudos que vimos aqui, usando dados de pessoas da vida real, esse levou

os cientistas ao laboratório para observar, em nível microscópico, como proteínas do

coronavírus Sars-CoV-2 interagem com proteínas de células humanas antes de invadi-las, dando

início à infecção.

Existem proteínas que só alguns tipos sanguíneos têm: são os antígenos.

Um paciente do tipo sanguíneo A tem antígeno A; do tipo sanguíneo AB, antígeno A e antígeno

B.

Apenas no caso do O, não existe antígeno correspondente.

Os pesquisadores viram que o coronavírus tinha uma “forte preferência” em se ligar

ao antígeno A, particularmente aqueles presentes nas células respiratórias dos pulmões.

O mesmo não foi observado em células dos tipos sanguíneos B e O, também avaliadas.

O experimento demonstrou, nas palavras da equipe, uma "conexão direta entre o tipo

sanguíneo A e o SARS-CoV-2" e é uma "evidência adicional de que alguns tipos sanguíneos

podem estar associados a um risco maior de contrair a doença".

Eu troquei emails com um dos autores, o Sean Stowell, médico e pesquisador em um hospital

de Boston.

Eu perguntei a ele como podem existir resultados tão diferentes em pesquisas abordando o mesmo

tema.

O médico me respondeu que as diferenças podem ser explicadas, em parte, por metodologias

distintas e também pela dificuldade de se “isolar” apenas as variáveis tipo sanguíneo

e adoecimento — porque, no meio do caminho entre essas duas coisas, há fatores como

características populacionais e exposição a diferentes cargas virais.

Ele disse que seria preciso um estudo com uma população de pacientes com tipos sanguíneos

conhecidos e uma igual exposição ao vírus.

Mas como isso provavelmente nunca vai acontecer, ele acha que vai ser impossível saber se

o tipo sanguíneo de fato influencia ou não nos casos de covid-19.

Mesmo com as dúvidas e mais estudos por vir, os entrevistados me disseram que as descobertas

feitas aqui ajudam a entender a covid-19 de forma mais geral.

Eu perguntei para o Gil de Santis, do Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto, o que poderia

explicar melhor a relação entre tipos sanguíneos e covid: a possível vulnerabilidade do antígeno

A, ou a possível proteção fornecida pelo anticorpo anti-A, presente no tipo sanguíneo O?

Ele me respondeu que as duas explicações podem ser igualmente importantes, e se juntar

a uma terceira: problemas na coagulação, tão presentes nos casos mais graves da covid-19,

que têm também relação com o tipo sanguíneo.

Quem é do tipo O tem menos dois fatores da coagulação, a gente chama de 2 pró-coagulantes — tem

o nível mais baixo, e ele carrega fator VIII. Então tem o fator VIII e o fator de Willebrand,

que são diminuídos nos indivíduos do tipo O, em relação aos outros tipos

Portanto dois fatores que contribuem para a trombose, digamos assim, favorecem a trombose,

atuam para que ocorra a trombose, são diminuídos no indivíduo O em relação ao indivíduo A

Espero que esse vídeo tenha sido útil.

Eu aprendi muita coisa e espero que vocês também!

Se cuidem e até a próxima!