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Buenas Ideias, O GOSTOSO HANS STADEN - EDUARDO BUENO (1)

O GOSTOSO HANS STADEN - EDUARDO BUENO (1)

Ah, que livro saboroso! Uma prosa deliciosa. Cada palavra parece ser bem temperada. Você

vai virando as páginas e vai deglutindo letra por letra. Aí você para e pensa: "O que?

Saiu um novo livro de Eduardo Bueno depois de tanto tempo?". Sim, sim! Casualmente saiu:

esse aqui, ó! Eduardo Bueno: "Textos contraculturais, crônicas anacrônicas e outras viagens",

são as minhas entrevistas com o Allen Ginsberg, com o William Burroughs, com o Bukowski...

Eu sei que você está louco pra comprar, louco pra ler... Já está nas livrarias!

Mas tu não acha que eu ia ficar usando o canal Buenas Ideias pra falar de outro aspecto

da minha múltipla personalidade! Claro que não, cara! Esse canal é sobre história

do Brasil. Eu jamais falaria desse livro! Eu nunca falaria desse livro aqui! Jamais

diria que esse livro saiu, que você pode comprar, que você pode adquirir, porque seria

uma coisa que assim... faltaria ética da minha parte! Esse episódio é sobre ESSE

outro livro! Sobre esse livro espetacular, esse livro magnífico, Hans Staden: "Duas

viagens ao Brasil". Por coincidência a introdução também é minha e a editora também é a

mesma, L&PM.; Mas cara, sério, esse livro conta uma história maravilhosa que tu nunca

ouviu desse jeito que eu vou te contar. "Que estado, que estado! Veja em que estado ficou

o pobre Hans Staden!". Hans Staden, quem não conhece, sem ser a equipe aqui nossa que faz

o programa que não conhece o Hans Staden... mas vão conhecer agora em primeiríssima

mão. Hans Staden, um arcabuzeiro alemão, um soldado da fortuna, um mercenário que

resolveu vir ao Brasil... e ainda bem! Que bênção que ele resolveu vir ao Brasil porque

o livro que ele escreve é precioso, cara. Mas nós não vamos falar desse livro! Não

vamos falar desse livro! E nem desse! Nós também não vamos falar desse livro de Eduardo

Bueno que acaba de sair; esse livro aqui ó! Mas esse livro, nós não vamos falar sobre

ele. E nem esse, porque nós falaremos desse livro num outro episódio. Nós vamos falar

da história do Hans Staden até ele chegar ao momento em que ele escreveu esse livro.

O Hans Staden era um alemão de Bremen, ele... não se sabe bem a idade dele, mas ali pelos

20 anos de idade, quando a pessoa resolve pegar a estrada, né, "On the road"... Inclusive

sobre "On the road" eu falo muito neste outro livro aqui! Mas não... esse livro não é

o tema dessa coisa! É incrível porque no início desse livro o Hans Staden conta como

ele deixou a casa natal. E isso, sabe o que que nos remete? Nos remete ao início do livro

"Robinson Crusoé", que é um livro maravilhoso, óbvio, que você já viu inclusive aqui no

"Não Vai Cair no Enem"... porque o Robinson Crusoé, embora numa ficção, também vem

ao Brasil... e nos remete ao início de "Viagens de Gulliver", do Jonathan Swift... Dois caras

que saem de casa sem que o pai tivesse permitido. É o mesmo caso, o Hans Staden sai de Bremen,

na Alemanha, "em busca de aventuras", e chega, em abril de 1548, em Lisboa. Primeiro ele

vai pra Holanda, passa ali nos coffee shops de Amsterdã, bararará, já dá uma viajada

sem sair da Europa e vai... e é interessante porque cara, TUDO no livro do cara é interessante...

porque ele sai da Holanda num barco que vai buscar sal em Setúbal. Quando você estuda

a incrível relação entre Portugal e Holanda, que viria a resultar na invasão holandesa

do Brasil, blablablá, você percebe que a grande ligação comercial entre os dois era:

Portugal exportava vinho em troca do sal... Isso aí vai ter uma grande importância na

história mas vai estudar que não é essa a história que eu quero te contar! Ele chega

em Lisboa em abril de 1548... Pra sua desilusão ele descobre que os navios portugueses que

iam para a Índia já tinham partido por causa das monções. Exatamente, eles partiam antes

dos navios que partiam para a América. Ele fica muito decepcionado porque na verdade

ele queria ir pra Índia. É o que ele diz no início do livro: ele ouviu falar que a

Índia era maravilhosa e era mesmo né, e aí ele perde a barca que ia... "Eu ia lhe

chamar... Enquanto corria a barca"!. Chamaram tarde demais, ele perdeu a barca. Aí eles

disseram "não, mas dá pra ir pro Brasil!". Então ele vem pro Brasil! Quando é que ele

sai? Tem um dia aqui que ele sai. Ele sai em maio de 1548. E ele faz uma viagem bem

difícil, a primeira... porque como você está vendo aqui o livro diz "Duas viagens

ao Brasil", duas viagens ao Brasil! Nessa primeira viagem ele chega... quando é que

ele chega mesmo... No dia 28 de janeiro de 1549 eles chegam no Cabo Santo Agostinho...

Um lugar incrível, né, maravilhoso, tá lá meio abandonado.

E aí ele vem num navio português e chegam em Pernambuco. E quando eles chegam em Pernambuco

eles são informados que uma cidade portuguesa, Igarassu, uma das primeiras cidades criadas

no Pernambuco, estava sob os ataques dos índios Caeté. E é muito legal que ele diz "POR

CULPA DOS PORTUGUESES, pelos mal-feitos dos portugueses, os índios caeté se revoltaram

e sitiaram 90 colonos no pequeno vilarejo que eles tinham em Igarassu". E eles vão

pra Olinda, conhecem o Duarte Coelho que é um super... o único donatário que deu certo,

o único cara que realmente fez um projeto colonial relativamente decente em Pernambuco...

tava lá em Olinda e implora pra essa guarnição que chegou ir ajudar aqueles caras que já

tavam sitiados há 90 dias! Sem ter o que comer. Então o Hans Staden e esse navio que

tá chegando vão lá socorrer os caras e ele já descreve toda a luta, toda a guerra,

os índios tinham flechas incendiárias e jogavam grandes moitas de pimenta e queimava

a pimenta e vinha uma fumaça tóxica, guerra química com a fumaça da pimenta... E eles

conseguem salvar os caras. É uma história incrível e tal. E isso cara, ocupa 20 páginas

dum livro que tem 200. Porque ele volta pra Lisboa... ele chega em Lisboa... em janeiro

de 1549, né. Fica ali um tempo em Lisboa e aí se muda pra Espanha. E ele parte pra

Espanha... parte de novo da Espanha, de Sevilha, outra vez para o Brasil, em 1550. E é essa

a viagem incrível! É essa a viagem que nos interessa... porque graças a essa viagem

ele vai contar toda a história que tá no livro. E a história é o seguinte: ele vem

pro Brasil mas ele vem pro Brasil espanhol! Ele parte pra uma expedição do Juan de Sanabria,

que vinha ocupar todo o território que ficava da Ilha de Superagui, da Ilha do Mel, Baía

de Paranaguá... Vai estudar onde é que fica, ananás! E na verdade, ele queria estabelecer

uma cidade na Ilha de São Francisco do Sul, né... Porque já falei aqui, você deveria

saber com mais precisão que, na divisão do Tratado de Tordesilhas o Brasil acabava

em Cananeia, no sul de São Paulo... De Cananeia pra baixo era tudo Espanhol... De Cananeia

a Laguna era um lugar que dava pra ocupar, era um lugar estratégico, um lugar importante...

Até porque dali partiam os caminhos que levavam até Asunción, no Paraguai. E Asunción já

existia, já tinha sido criada pelos espanhóis, né. E de Laguna pra baixo era uma costa difícil

de navegar. Então, todo esse território que vai da Baía de Paranaguá até Laguna

era muito importante! E pertencia a Espanha. E eles tiveram esse projeto de ocupação

ali. Mas saiu tudo assombrosamente errado! Cara, os naufrágios, as tragédias que assolaram

essa expedição do Juan de Sanabria são impressionantes. O Juan de Sanabria morre,

quem assume é um tal de Juan de Salazar, tal. E aí eles chegam... eles são atacados

por piratas, tá tudo no livro, cara, tá tudo no livro! Ele descreve com detalhes os

dias, como é que aconteceu. E aí eles chegam na Ilha de Santa Catarina no dia 25 de novembro...

que aliás é dia de Santa Catarina... no dia 25 de novembro de 1550. Cara, e aí naufragam...

o outro navio naufragou e tal... e eles ficam DOIS ANOS, cara, dois anos perambulando pela

mata... Perdidos ali... E tinha várias mulheres nas expedições... Dona Mência de Sanabria,

uma mulher incrível com as suas filhas que iniciam uma jornada a pé! Elas saem da Ilha

de São Francisco do Sul a pé até Asunción! E a expedição briga.. umas loucuras... cara,

assim ó, parece a "Aguirre: a Cólera dos Deuses", aquele filme do Werner Herzog...

Os espanhol tudo enlouquecido, papapá, passando fome, os índios atacando, mosquito, plá

plá, plá... Cara, tu não acredita... Tu tem que ler a porra do livro, tem que ler!

Eu não vou te contar todos os detalhes! To contando poucos detalhes hahaha não, tem

muito mais detalhes! Aí, cara, o Hans Staden e um outro grupo pegam um outro navio, tentam

ir pra... pra onde é Buenos Aires e naufragam em Itanhaém no sul... litoral sul de São

Paulo. E aí é o DÉCIMO naufrágio da expedição, eles enchem o saco deles e vão a pé até

São Vicente! São Vicente, você já viu aqui no "Não Vai Cair no Enem", já falei

várias vezes... é a origem de São Paulo, era o porto dos escravos, era um lugar meio

assombroso e sombrio que tava ligado ao João Ramalho, que tava ligado ao Martim Afonso

de Sousa, que blablablá... E eles chegam numa expedição inimiga, né, cara! Expedição

não porque eles tavam ali desbaratados, eram uns náufragos, tavam lá esfarrapados...

Chegam em São Vicente e como tinha inclusive o Juan Salazar, que era um cara nobre... São

recebidos pelos portugueses, né, que não os expulsam... Porque embora fossem inimigos...

Pô, os caras tavam ali numa ruim! Alguns são presos, outros ficam soltos... E o Hans

Staden, que era alemão, entendeu... Os caras deixam... levam ele meio livre, veem que ele

é um mercenário. E aí cara, nessa mesma época, o governador geral Tomé de Sousa

chega pra uma visita de inspeção na costa junto com o Manoel da Nóbrega e conhece o

Hans Staden, que disparava arcabuz, era um arcabuzeiro. E aí cara, uma outra história

incrível, porque era o último entreposto da América portuguesa, São Vicente... Mas

na verdade, perto de São Vicente, perto do Guarujá... onde, eu não sei você, eu tenho

um triplex maravilhoso no Guarujá... não é meu, é dum amigo meu... E aí perto de

Guarujá onde eu tenho um triplex... não é meu, é dum amigo meu... Fica a ilha de

Santo Amaro. Na Ilha de Santo Amaro fica o canal de Bertioga, tá, e é incrível, porque

esse canal de Bertioga era no exato limite do território tribal dos tamoios... que eram

os índios que ocupavam o Rio de Janeiro, aguerridos, os tupinambás da parcialidade

tamoio, que odiavam português, que não suportavam português, que eram aliados dos franceses

(que já tinham se instalado em 1555 ali... já tavam vindo, 1555 vai chegar, porque nós

estamos em 1554 ainda, essa história toda). E de Bertioga pra baixo era o território

tupiniquim. Os tupiniquins eram aliados dos portugueses, muito. Tibiriçá, Bartira, blábláblá.

Era aliado de tupiniquim, era inimigo de tamoio e bababá. Só que os tamoios, eles iam todo

ano até esse canal de Bertioga... Bertioga é uma corruptela de "buriqui-oca", que quer

dizer "a toca, a oca dos macacos"... era um lugar que tinha muito macaco, ali. E nesse

lugar, mais do que macaco, tinha guará! Guará é aquele pássaro com uma plumagem rubra,

vermelha, maravilhosa, que os tupinambás usavam pra seus mantos sacerdotais... e também

os índios mais... os índios de classe-média alta, assim, tamoio, usavam esses mantos com

guará. Então, numa determinada época do ano, eles iam sempre ali coletar pena de guará,

né, que é esse pássaro maravilhoso, que agora até tá voltando prali depois de ter


O GOSTOSO HANS STADEN - EDUARDO BUENO (1)

Ah, que livro saboroso! Uma prosa deliciosa. Cada palavra parece ser bem temperada. Você

vai virando as páginas e vai deglutindo letra por letra. Aí você para e pensa: "O que?

Saiu um novo livro de Eduardo Bueno depois de tanto tempo?". Sim, sim! Casualmente saiu:

esse aqui, ó! Eduardo Bueno: "Textos contraculturais, crônicas anacrônicas e outras viagens",

são as minhas entrevistas com o Allen Ginsberg, com o William Burroughs, com o Bukowski...

Eu sei que você está louco pra comprar, louco pra ler... Já está nas livrarias!

Mas tu não acha que eu ia ficar usando o canal Buenas Ideias pra falar de outro aspecto

da minha múltipla personalidade! Claro que não, cara! Esse canal é sobre história

do Brasil. Eu jamais falaria desse livro! Eu nunca falaria desse livro aqui! Jamais

diria que esse livro saiu, que você pode comprar, que você pode adquirir, porque seria

uma coisa que assim... faltaria ética da minha parte! Esse episódio é sobre ESSE

outro livro! Sobre esse livro espetacular, esse livro magnífico, Hans Staden: "Duas

viagens ao Brasil". Por coincidência a introdução também é minha e a editora também é a

mesma, L&PM.; Mas cara, sério, esse livro conta uma história maravilhosa que tu nunca

ouviu desse jeito que eu vou te contar. "Que estado, que estado! Veja em que estado ficou

o pobre Hans Staden!". Hans Staden, quem não conhece, sem ser a equipe aqui nossa que faz

o programa que não conhece o Hans Staden... mas vão conhecer agora em primeiríssima

mão. Hans Staden, um arcabuzeiro alemão, um soldado da fortuna, um mercenário que

resolveu vir ao Brasil... e ainda bem! Que bênção que ele resolveu vir ao Brasil porque

o livro que ele escreve é precioso, cara. Mas nós não vamos falar desse livro! Não

vamos falar desse livro! E nem desse! Nós também não vamos falar desse livro de Eduardo

Bueno que acaba de sair; esse livro aqui ó! Mas esse livro, nós não vamos falar sobre

ele. E nem esse, porque nós falaremos desse livro num outro episódio. Nós vamos falar

da história do Hans Staden até ele chegar ao momento em que ele escreveu esse livro.

O Hans Staden era um alemão de Bremen, ele... não se sabe bem a idade dele, mas ali pelos

20 anos de idade, quando a pessoa resolve pegar a estrada, né, "On the road"... Inclusive

sobre "On the road" eu falo muito neste outro livro aqui! Mas não... esse livro não é

o tema dessa coisa! É incrível porque no início desse livro o Hans Staden conta como

ele deixou a casa natal. E isso, sabe o que que nos remete? Nos remete ao início do livro

"Robinson Crusoé", que é um livro maravilhoso, óbvio, que você já viu inclusive aqui no

"Não Vai Cair no Enem"... porque o Robinson Crusoé, embora numa ficção, também vem

ao Brasil... e nos remete ao início de "Viagens de Gulliver", do Jonathan Swift... Dois caras

que saem de casa sem que o pai tivesse permitido. É o mesmo caso, o Hans Staden sai de Bremen,

na Alemanha, "em busca de aventuras", e chega, em abril de 1548, em Lisboa. Primeiro ele

vai pra Holanda, passa ali nos coffee shops de Amsterdã, bararará, já dá uma viajada

sem sair da Europa e vai... e é interessante porque cara, TUDO no livro do cara é interessante...

porque ele sai da Holanda num barco que vai buscar sal em Setúbal. Quando você estuda

a incrível relação entre Portugal e Holanda, que viria a resultar na invasão holandesa

do Brasil, blablablá, você percebe que a grande ligação comercial entre os dois era:

Portugal exportava vinho em troca do sal... Isso aí vai ter uma grande importância na

história mas vai estudar que não é essa a história que eu quero te contar! Ele chega

em Lisboa em abril de 1548... Pra sua desilusão ele descobre que os navios portugueses que

iam para a Índia já tinham partido por causa das monções. Exatamente, eles partiam antes

dos navios que partiam para a América. Ele fica muito decepcionado porque na verdade

ele queria ir pra Índia. É o que ele diz no início do livro: ele ouviu falar que a

Índia era maravilhosa e era mesmo né, e aí ele perde a barca que ia... "Eu ia lhe

chamar... Enquanto corria a barca"!. Chamaram tarde demais, ele perdeu a barca. Aí eles

disseram "não, mas dá pra ir pro Brasil!". Então ele vem pro Brasil! Quando é que ele

sai? Tem um dia aqui que ele sai. Ele sai em maio de 1548. E ele faz uma viagem bem

difícil, a primeira... porque como você está vendo aqui o livro diz "Duas viagens

ao Brasil", duas viagens ao Brasil! Nessa primeira viagem ele chega... quando é que

ele chega mesmo... No dia 28 de janeiro de 1549 eles chegam no Cabo Santo Agostinho...

Um lugar incrível, né, maravilhoso, tá lá meio abandonado.

E aí ele vem num navio português e chegam em Pernambuco. E quando eles chegam em Pernambuco

eles são informados que uma cidade portuguesa, Igarassu, uma das primeiras cidades criadas

no Pernambuco, estava sob os ataques dos índios Caeté. E é muito legal que ele diz "POR

CULPA DOS PORTUGUESES, pelos mal-feitos dos portugueses, os índios caeté se revoltaram

e sitiaram 90 colonos no pequeno vilarejo que eles tinham em Igarassu". E eles vão

pra Olinda, conhecem o Duarte Coelho que é um super... o único donatário que deu certo,

o único cara que realmente fez um projeto colonial relativamente decente em Pernambuco...

tava lá em Olinda e implora pra essa guarnição que chegou ir ajudar aqueles caras que já

tavam sitiados há 90 dias! Sem ter o que comer. Então o Hans Staden e esse navio que

tá chegando vão lá socorrer os caras e ele já descreve toda a luta, toda a guerra,

os índios tinham flechas incendiárias e jogavam grandes moitas de pimenta e queimava

a pimenta e vinha uma fumaça tóxica, guerra química com a fumaça da pimenta... E eles

conseguem salvar os caras. É uma história incrível e tal. E isso cara, ocupa 20 páginas

dum livro que tem 200. Porque ele volta pra Lisboa... ele chega em Lisboa... em janeiro

de 1549, né. Fica ali um tempo em Lisboa e aí se muda pra Espanha. E ele parte pra

Espanha... parte de novo da Espanha, de Sevilha, outra vez para o Brasil, em 1550. E é essa

a viagem incrível! É essa a viagem que nos interessa... porque graças a essa viagem

ele vai contar toda a história que tá no livro. E a história é o seguinte: ele vem

pro Brasil mas ele vem pro Brasil espanhol! Ele parte pra uma expedição do Juan de Sanabria,

que vinha ocupar todo o território que ficava da Ilha de Superagui, da Ilha do Mel, Baía

de Paranaguá... Vai estudar onde é que fica, ananás! E na verdade, ele queria estabelecer

uma cidade na Ilha de São Francisco do Sul, né... Porque já falei aqui, você deveria

saber com mais precisão que, na divisão do Tratado de Tordesilhas o Brasil acabava

em Cananeia, no sul de São Paulo... De Cananeia pra baixo era tudo Espanhol... De Cananeia

a Laguna era um lugar que dava pra ocupar, era um lugar estratégico, um lugar importante...

Até porque dali partiam os caminhos que levavam até Asunción, no Paraguai. E Asunción já

existia, já tinha sido criada pelos espanhóis, né. E de Laguna pra baixo era uma costa difícil

de navegar. Então, todo esse território que vai da Baía de Paranaguá até Laguna

era muito importante! E pertencia a Espanha. E eles tiveram esse projeto de ocupação

ali. Mas saiu tudo assombrosamente errado! Cara, os naufrágios, as tragédias que assolaram

essa expedição do Juan de Sanabria são impressionantes. O Juan de Sanabria morre,

quem assume é um tal de Juan de Salazar, tal. E aí eles chegam... eles são atacados

por piratas, tá tudo no livro, cara, tá tudo no livro! Ele descreve com detalhes os

dias, como é que aconteceu. E aí eles chegam na Ilha de Santa Catarina no dia 25 de novembro...

que aliás é dia de Santa Catarina... no dia 25 de novembro de 1550. Cara, e aí naufragam...

o outro navio naufragou e tal... e eles ficam DOIS ANOS, cara, dois anos perambulando pela

mata... Perdidos ali... E tinha várias mulheres nas expedições... Dona Mência de Sanabria,

uma mulher incrível com as suas filhas que iniciam uma jornada a pé! Elas saem da Ilha

de São Francisco do Sul a pé até Asunción! E a expedição briga.. umas loucuras... cara,

assim ó, parece a "Aguirre: a Cólera dos Deuses", aquele filme do Werner Herzog...

Os espanhol tudo enlouquecido, papapá, passando fome, os índios atacando, mosquito, plá

plá, plá... Cara, tu não acredita... Tu tem que ler a porra do livro, tem que ler!

Eu não vou te contar todos os detalhes! To contando poucos detalhes hahaha não, tem

muito mais detalhes! Aí, cara, o Hans Staden e um outro grupo pegam um outro navio, tentam

ir pra... pra onde é Buenos Aires e naufragam em Itanhaém no sul... litoral sul de São

Paulo. E aí é o DÉCIMO naufrágio da expedição, eles enchem o saco deles e vão a pé até

São Vicente! São Vicente, você já viu aqui no "Não Vai Cair no Enem", já falei

várias vezes... é a origem de São Paulo, era o porto dos escravos, era um lugar meio

assombroso e sombrio que tava ligado ao João Ramalho, que tava ligado ao Martim Afonso

de Sousa, que blablablá... E eles chegam numa expedição inimiga, né, cara! Expedição

não porque eles tavam ali desbaratados, eram uns náufragos, tavam lá esfarrapados...

Chegam em São Vicente e como tinha inclusive o Juan Salazar, que era um cara nobre... São

recebidos pelos portugueses, né, que não os expulsam... Porque embora fossem inimigos...

Pô, os caras tavam ali numa ruim! Alguns são presos, outros ficam soltos... E o Hans

Staden, que era alemão, entendeu... Os caras deixam... levam ele meio livre, veem que ele

é um mercenário. E aí cara, nessa mesma época, o governador geral Tomé de Sousa

chega pra uma visita de inspeção na costa junto com o Manoel da Nóbrega e conhece o

Hans Staden, que disparava arcabuz, era um arcabuzeiro. E aí cara, uma outra história

incrível, porque era o último entreposto da América portuguesa, São Vicente... Mas

na verdade, perto de São Vicente, perto do Guarujá... onde, eu não sei você, eu tenho

um triplex maravilhoso no Guarujá... não é meu, é dum amigo meu... E aí perto de

Guarujá onde eu tenho um triplex... não é meu, é dum amigo meu... Fica a ilha de

Santo Amaro. Na Ilha de Santo Amaro fica o canal de Bertioga, tá, e é incrível, porque

esse canal de Bertioga era no exato limite do território tribal dos tamoios... que eram

os índios que ocupavam o Rio de Janeiro, aguerridos, os tupinambás da parcialidade

tamoio, que odiavam português, que não suportavam português, que eram aliados dos franceses

(que já tinham se instalado em 1555 ali... já tavam vindo, 1555 vai chegar, porque nós

estamos em 1554 ainda, essa história toda). E de Bertioga pra baixo era o território

tupiniquim. Os tupiniquins eram aliados dos portugueses, muito. Tibiriçá, Bartira, blábláblá.

Era aliado de tupiniquim, era inimigo de tamoio e bababá. Só que os tamoios, eles iam todo

ano até esse canal de Bertioga... Bertioga é uma corruptela de "buriqui-oca", que quer

dizer "a toca, a oca dos macacos"... era um lugar que tinha muito macaco, ali. E nesse

lugar, mais do que macaco, tinha guará! Guará é aquele pássaro com uma plumagem rubra,

vermelha, maravilhosa, que os tupinambás usavam pra seus mantos sacerdotais... e também

os índios mais... os índios de classe-média alta, assim, tamoio, usavam esses mantos com

guará. Então, numa determinada época do ano, eles iam sempre ali coletar pena de guará,

né, que é esse pássaro maravilhoso, que agora até tá voltando prali depois de ter