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PODCAST Português (*Generated Transcript*), Questão de tempo

Questão de tempo

Olá pessoal, sejam todos muito bem-vindos a mais um podcast filosófico, atividade que

é promovida pela Organização Internacional Nova Acrópole do Brasil.

E para esse nosso podcast de hoje, recebemos o professor voluntário da sede Caxias do

Sul, Gustavo Massen.

Seja muito bem-vindo, Gustavo.

Obrigado, Danilo.

Olá a todos os nossos ouvintes e vamos para mais um conteúdo interessante e filosófico

para todos vocês.

Em nossa conversa de hoje, vamos fazer algumas reflexões filosóficas sobre o filme Questão

de Tempo.

Não vamos esgotar o tema, nossa ideia não é essa, e muito menos trazer aqui verdades

absolutas, pelo contrário.

Vamos conversar, vamos discorrer sobre aquilo que o filme nos ensina através do seu roteiro,

das suas ideias, das interpretações dos atores, enfim, das vivências que o filme

nos demonstra para que a gente possa viver em alguma medida aquilo que o filme traz enquanto

ensinamento de vida.

Esse filme chama-se About Time, em seu título original, lançado em 2013.

E ele lembra muito um outro filme que já é um clássico do cinema, Groundhog Day,

que é o feitiço do tempo.

Ou seja, ambos trazem essa tônica do tempo, do desenvolvimento humano, das experiências

humanas através do tempo, com consciência, e isso é muito importante.

E nós já havíamos falado várias vezes sobre esse filme, Questão de Tempo, de gravarmos

um podcast sobre ele, porque ele traz uma série de experiências humanas que dizem

respeito a todos nós, porque nós vivemos coisas semelhantes que os atores vivem no

filme, que o roteiro traz como ideia de experiência humana.

Eu gostaria que você começasse fazendo uma síntese sobre o filme, as principais ideias,

para que a gente comece então o nosso podcast de hoje.

Aproveitando, Danilo, que você mencionou esse filme, o título em português é O Feitiço

do Tempo, fantástico também, e tem um tema muito semelhante a esse filme aqui.

Bom, o filme vai seguir, na sua história, o personagem Tim, que tem uma vida bastante

pacata, bastante tranquila, no interior da Inglaterra.

Porém, ele é um personagem como todo jovem tem as suas crises, e no caso dele, ele tem

uma vontade muito grande de ter uma namorada, de poder ter experiência do amor.

E o filme começa como toda uma boa comédia romântica, com situações engraçadas, e

uma relação do herói da história com o amor, com a busca do amor.

E, obviamente, que o filme, aos poucos, aliás, não é óbvio, porque eu mesmo, quando fui

assistir ao filme, me surpreendi bastante.

O filme gradualmente vai se tornando uma reflexão bastante profunda sobre o tempo e sobre a

nossa relação com o tempo.

Então, a história vai girando em cima disso.

O Tim vai descobrindo que tem essa capacidade, o seu pai diz que os homens da família têm

a sua capacidade de voltar no tempo, não necessariamente ir ao futuro, mas voltam ao

passado que eles lembram, que eles têm de memória.

E, claro, isso não é o mais importante na história, o como que é feito isso, até

porque é de uma forma até bastante bobinha.

Eles vão num quarto escuro, fecham os olhos, serram os punhos e lembram do momento que

eles querem voltar e voltam naquele momento exato.

E aí podem fazer mudanças no seu passado.

O filme gira em torno dessas desventuras que ele vai tendo ao longo dessa descoberta, dessa

percepção que ele vai tendo ao longo do tempo.

E o primeiro ponto, que justamente é o que eu vou te perguntar, é sobre essa ideia do

tempo, do ponto de vista da filosofia, o que o filme nos traz enquanto aprendizado sobre

o tempo e sobre a consciência também que ele precisa desenvolver através das experiências.

É bastante engraçado quando ele descobre, ao fazer 21 anos, quando o pai lhe diz que

há uma tradição na família de viajantes do tempo em que eles podem voltar no tempo

e ter outras experiências.

E às vezes a gente se pensa assim ou se imagina assim voltando no tempo para corrigir

um erro, para aprender algo que a gente não aprendeu, enfim.

Mas as coisas são como são e elas acontecem como devem acontecer.

Por isso a questão do tempo e da consciência como aprendizado para que a gente possa crescer

mais e observar melhor as experiências, essa é a primeira questão que eu te faço, que

é um ponto importantíssimo no filme.

Tem a questão do destino também, ou seja, das coisas como elas devem acontecer e há

a ideia do karma também, que são as escolhas que a gente faz quando a gente não reconhece

o nosso destino.

Isso fica muito claro porque no filme ele várias vezes erra em algumas circunstâncias

e ele volta no tempo para tentar se corrigir e ele acaba errando de novo depois.

Isso é muito interessante porque há várias experiências dentro dessas três questões

que eu lhe fiz sobre o destino, o karma e a consciência como fator primordial de evolução.

Eu gostaria que você falasse um pouco sobre essas questões.

Sem dúvida, o pai dele, inclusive, quando explica para ele sobre essa capacidade que

os homens da família têm e quando o Tim inicialmente até desdenha isso e se posiciona

de uma forma cética e vai lá e faz um teste em relação a isso, ele lembra imediatamente

de uma situação embaraçosa que ele passou no dia anterior, que foi no ano novo, onde

ele se arrependeu de algo.

Ele ia beijar uma menina e acaba não beijando.

Ele volta no tempo e corrige isso.

Eu acho que ele vai falar com o pai sobre isso e, claro, na história, a família dele

não tem uma influência grande em grandes acontecimentos históricos.

Então, é uma capacidade que se estabelece justamente no cotidiano mais comum das pessoas.

Eu acho que é isso que talvez toque tanto.

Como seria a nossa vida se a gente pudesse voltar no tempo, pudesse corrigir certas coisas?

Já se coloca essa pergunta.

E no início, ele, obviamente, tem dificuldades.

Ele tem que fazer isso muitas vezes, vai voltando muitas vezes no tempo, porque ele não sabe

lidar com a capacidade que ele tem.

E o pai dele, inclusive, quando dá as instruções, ele diz assim,

é, vai ser uma vida complicada, mas instrui ele que ele deveria usar isso na melhor forma possível.

E aí é engraçado porque, nesse diálogo, ele diz assim, o dinheiro seria o mais óbvio.

E aí o pai dele diz, é, mas o seu tio estragou a vida dele buscando isso.

Eu nunca vi uma pessoa rica definitivamente feliz.

E aí ele pergunta pro pai o que ele fazia.

E o pai dele, como era professor, a paixão dele era os livros.

E ele diz, olha, eu li todos os livros que um ser humano poderia ou almejaria ler.

Os melhores livros que o ser humano poderia ler.

Quer dizer, ele aproveitou, ele já dá uma instrução que ele deve aproveitar como ele

internamente vê que seria o sentido.

E aí ele até brinca porque o Tim fala que imediatamente o que ele precisa é uma namorada.

E ele fala isso pro pai, ele diz assim, nossa, que grandioso.

Ou algo assim.

Então, no início, o Tim tem essa sede imediata de resolver problemas imediatos da vida dele.

Tanto que ele vai, em seguida vai a Londres e vai estudar, estuda direito e começa a trabalhar.

E aí ele conhece até um amigo do pai dele que é super mal-humorado e mora com esse

amigo do pai dele, que é diretor de teatro.

Mas a busca dele interna é uma busca de sentido do amor e isso é legal a gente perceber ao

longo do filme.

Esse é um tema central desse filme, inclusive.

E os personagens, claro, o diretor, que é o Richard Curtis, e também é o roteirista,

ele se dedica a mostrar personagens, claro, como toda comédia, caricatos, engraçados,

que tem as suas peculiaridades, suas esquisitices.

Mas, ao mesmo tempo, a gente vai percebendo que esses personagens são muito importantes

pra mostrar ao Tim o quanto a vida dele tem importância e tem sentido.

Mesmo na relação, muitas vezes, difícil, que aparece com estes personagens.

E, bom, até que numa ocasião, já passando um tempo em Londres, ele vai encontrar um

amigo dele que ele mesmo não gosta muito do amigo, mas aceita o convite pra saírem

juntos à noite.

E aí o amigo dele propôs a ele que fosse num restaurante no Encontro às Cegas, um

lugar onde você tinha que entrar no escuro completo e conhecer pessoas nesse lugar, você

não enxergaria nada.

E lá ele encontra a mulher que vai ser a mulher da vida dele, a Mary, que inclusive

é o mesmo nome da mãe dele.

E ao longo desse diálogo, que é bem interessante, eles vão se descobrindo sem se ver.

E a proposta do filme é bem interessante, porque eles não se viram até então, mas

vão se conhecendo pelo que eles são, por como eles se relacionam, como eles se portam

na vida, seus gostos.

E quando eles se veem pela primeira vez, o Tim, obviamente, logo se apaixona.

Eles trocam o telefone e mais tarde acaba perdendo esse telefone porque ele vai ajudar

o amigo do pai dele, que estava no mesmo dia que ele foi encontrar com a Mary, ele se depara

com um problema lá na peça, onde o ator dá um branco justamente no fim, no clímax

da história.

E quando o Tim volta pra casa, descobre isso e ele, como é uma pessoa muito generosa,

ele tenta ajudar.

E ele volta justamente antes do encontro.

E aí vai junto com um amigo dele, que é o Harry.

Ele consegue consertar a situação, porém ele perde o telefone na Mary, com isso porque

ele não tinha até então conhecido ela.

Ele lembra, mas não havia conhecido de fato.

E é muito engraçado o personagem do Harry, porque ele não se dá muito bem com o Tim.

E o Tim é muito generoso, como você bem lembrou, porque ao chegar em casa ele está

muito feliz por ter encontrado a Segas, a Mary, que vai ser o amor da vida dele.

No entanto, ele percebe o amigo do pai muito tristonho.

Só que a cena é engraçada, porque a maneira dele é muito lamuriosa, é muito reclamona.

E aí o Tim decide voltar no tempo e ajudar para que aquele fiasco que acontece no teatro

não aconteça.

O fato é que ele perde o telefone da Mary, porque ele voltou no tempo e alterou as coisas.

Então é muito curioso isso, porque ele mexe no destino, ele mexe no karma pela sua ação.

Então é muito curioso e reflexivo também o que acontece com ele nesse momento.

E aí acontece algo na história que é muito legal, porque a partir disso ele não desiste.

E claro, como toda comédia romântica, ele vai fazer de tudo para encontrar o seu amor.

Mas isso é interessante na história, porque ele pega um fato dela, porque ela gosta da

modelo Kate Moss, e aí ele descobre que vai ter uma exposição em tal lugar e ele fica

uma semana inteira naquela exposição, porque ele sabia que ela gostava da modelo.

Poderia estar ali.

E olha que interessante, mesmo tendo a capacidade de voltar no tempo, ele teve que romper a

incerteza, teve que romper a dúvida, porque não tinha a menor ideia se ele iria encontrar ela.

Mas claro, na história ele encontra, ele consegue encontrar ela, porém é um fiasco total.

Ele a encontra, tenta falar com ela e também não dá muito certo.

Até porque a Mary já estava namorando com outro cara nesse meio tempo.

E aí ele descobre onde eles se encontraram pela primeira vez, que foi na casa da amiga da Mary.

E aí lá ele consegue efetivamente se encontrar com ela.

Mas tem uma cena nesse encontro, inclusive, que é bem legal, porque ele sinceramente

se coloca na posição de que ele gosta muito dela só pelo olhar.

E isso é uma característica desse personagem também.

Ele é muito verdadeiro.

Ele é muito verdadeiro nos seus sentimentos.

E ele coloca isso pra ela e no que ele coloca isso pra ela, ela vê e sente algo.

E bom, aí acontece que eles conseguem começar o seu relacionamento e bom, aí o filme segue.

Esse ponto aí até então é um período em que o Tim está aprendendo algumas coisas sobre si.

Essa segurança em si mesmo, de romper limites e barreiras.

É como um herói que está descobrindo seus potenciais, que não tem muito a ver com essa

capacidade da viagem no tempo.

A viagem no tempo aí, ela ainda é uma questão circunstancial e que ajuda ele a consertar

certas coisas.

Mas ele vai descobrindo que nem tudo dá pra consertar.

Nem tudo é possível consertar.

Nem tudo é possível fazer do jeito perfeito.

Eu não contei, antes de acontecer tudo isso com a Mary, ele teve o amor de verão, que

foi uma amiga da irmã dele que foi até a casa deles lá no verão e passa o verão

todo lá, uma menina super bonita, que até quem faz é a Margot Robin.

E ele não consegue, ele tenta ir e voltar no tempo várias vezes e tenta conquistar

ela e não adianta.

E ele mesmo tem a lição de que voltar no tempo, mesmo que eu consiga voltar muitas

vezes no tempo, eu não consigo fazer com que ninguém me ame.

Então tem que ser alguém que realmente tem algum sentimento por mim, que foi o que aconteceu

com a Mary.

Então até esse ponto o Tim está descobrindo essa capacidade dele de se descobrir também.

E aí você falou do karma e dharma, que muitas vezes a gente vê como algo grandioso, e realmente

é o dharma como destino, como o nosso sentido, o sentido da nossa vida sem dúvida é grandioso,

mas a gente tem que entender que nós descobrimos isso muitas vezes nas situações mais simples

da vida, e em momentos em que a gente tem que tomar decisões sobre rumos da nossa vida,

quer dizer, escolher quem a gente quer ser, quem a gente no íntimo quer ser.

Só que pra isso a gente tem que se descobrir, tem que se descobrir através das ações

e circunstâncias da vida, a gente vai tendo essas oportunidades de sim aos tropeços muitas

vezes e até situações cômicas e engraçadas, às vezes situações tristes, como a gente

vai ver mais pra frente aqui na história, mas de fato é que esse filme vai mostrando

que apesar da grandiosidade que o tempo tem, nós descobrimos muito do seu sentido no cotidiano,

nas situações mais simples, mais até triviais, ou que pelo menos achamos que é trivial.

Exatamente, tanto é que a Charlotte, que é amiga da irmã dele, a Kit Kat, numa situação

bem comum, bem simples, ele tem uma primeira experiência com essa questão de voltar no tempo,

ele quer conquistar a Charlotte, que é o, entre aspas, amor de verão que ele tem, porque

ela vai passar o verão na casa da família e o Tim se apaixona por ela, então ele quer

conquistá-la, ele vai passar creme nela, ele derruba, ele é bem atrapalhado, e as

cenas são bem engraçadas inclusive, porque ele sempre erra e volta no tempo pra tentar

agir de uma maneira melhor ou mais natural, ou seja, ele quer mudar o destino, porque

o karma, que é essa lei de ação, ou seja, ele gera uma ação e naturalmente que a vida

apresenta algo em virtude dessa ação, ou seja, é uma prova e uma experiência que

ele tem que passar, o fato é que o destino apresenta no fim dessa situação, que ela

não quer ter uma relação com ele, não naquele momento, e o fato é que ele quer

mudar o destino, só que não há como fazer isso, porque ele passa pelo tempo, passa

pelas experiências, sem consciência do que está acontecendo, isso é muito semelhante,

por exemplo, ao filme Feitiço do Tempo, onde o ator comete uma série de erros sem consciência,

eu digo isso porque a pergunta que eu te faço vai nesse sentido, em questão de tempo,

o Tim passa pelas mesmas provas, pelas experiências que, como você bem lembra, são comuns e

até corriqueiras, que a gente poderia pensar, bom, não tem nada para aprender ali, e é

o que o Tim vive, é o que nós vivemos, às vezes em nossas vidas também, quando a gente

passa por uma experiência, não registra o que aconteceu, por falta de atenção, por

falta de consciência, e as coisas se repetem, e a gente não entende a nossa responsabilidade

em aprender o que está ali, ou o que a gente gerou para que aquilo acontecesse, e também

o que precisamos aprender, portanto, eu gostaria que você falasse dessa ideia da consciência

como processo de aprendizado nas nossas vidas, isso é muito importante, é algo que

o filme traz de maneira bastante explícita, bastante evidente.

Para isso a gente não precisa voltar no tempo, como o Tim, simplesmente podemos aprender

com as experiências que já passamos, se refletimos sobre aquilo que fazemos, e o que

se entende aqui por reflexão, é se despir de julgamento sobre o que aconteceu e ver

as coisas exatamente como elas são, como aconteceram, e aprender com isso, o que eu

posso tirar de lição a partir daquilo que aconteceu comigo, então se algo aconteceu

errado, o que aconteceu, o que houve, qual foi o ponto em que isso levou para um erro,

por exemplo, e isso vai, como você bem disse, despertando em mim maior consciência dos

meus atos, das minhas ações mesmo, e assim como o Tim vai aprendendo também que tem

certas coisas que ele não tem domínio, ou seja, a decisão das outras pessoas em relação

aos sentimentos que elas têm, não passam pelo seu juízo, pelo contrário, ele tem

que aceitar que tem coisas que ele não tem domínio nem poder, como os estoicos nos ensinam

também com o Epíteto, por exemplo, que fala que tem coisas que dependem de nós e tem

coisas que não dependem, as coisas que dependem de nós tem a ver com as nossas próprias

ações e os nossos próprios valores que empregamos nessas ações, as nossas próprias decisões,

porém todo o resto não nos compete, são decisões dos demais ou são circunstâncias

que vão acontecendo e se colocando de acordo a uma complexa trama de acontecimentos que

é o carma, então eu tenho meu próprio carma, sem dúvida, minha própria lei de ação e reação

agindo em mim mesmo, mas também tem toda uma complexidade e que a gente conforme vamos

aceitando isso também, nós nos posicionamos melhor frente à vida, nós nos colocamos

de uma maneira mais tranquila e aceita melhor, não passivamente, mas ativamente as circunstâncias,

ativamente porque eu posso tomar decisões para melhorar as situações e circunstâncias

em relação a mim mesmo, colocando mais consciência mesmo, e você bem colocou sobre isso porque

o personagem acaba nos ensinando isso, nós não voltamos no tempo, mas nós temos memória,

nós temos a capacidade de lembrar o que fizemos e a partir disso poder fazer as correções necessárias

a partir da reflexão, agora se eu não me dou conta do que aconteceu, o porquê, se eu não tenho esse tempo

e aí colocamos também o tempo para isso, um espaço e um tempo para as nossas reflexões,

dificilmente a gente vai corrigir os nossos erros e quizá vamos até repeti-los.

Com certeza, e para mim um ponto importante aonde se percebe que ele tomou consciência um pouco mais

sobre a relação dele com a Mary, ou seja, ele despertou dentro dessa perspectiva de uma tomada

de consciência em alguma medida, é quando ele decide se casar com a Mary, porque ele reencontra a Charlotte

e aí há uma nova chance, uma nova possibilidade, só que ele recusa por consciência e ele volta correndo para casa,

ou seja, há uma decisão consciente, eu gostaria que você falasse desse ponto porque eu acho que é muito relevante.

Sim, ele toma a decisão de casar com a Mary depois de ter o reencontro com seu amor de verão,

que ficou no passado, então é interessante porque ele se encontra com o passado dele e há uma ponta que não havia sido fechada dentro dele,

ele ainda sentia algo pela Charlotte e tem um ponto que ele toma decisão, porque eles se encontram, vão jantar juntos,

ele chega à porta do apartamento dela, porém ele toma a decisão que a vida dele, o futuro dele não era esse,

e veja, claro, há uma construção aí, isso não é uma decisão que veio do nada ou veio a partir de algo espontâneo,

a decisão em si é imediata, porém se estabeleceu toda uma sequência de experiências que ele foi tendo

para chegar ao ponto de ele tomar a decisão do que ele quer para o futuro dele e não abrir mão disso,

porque ele poderia ter aberto mão, mas não abriu.

E esse ponto eu gostaria que você falasse um pouco mais, porque a reflexão que me traz esse filme,

quando eu assisti, naquele momento eu imaginei até que ele fosse ceder ao seu desejo, à sua tentação,

ou até mesmo algum sentimento que pudesse ter ficado no coração dele em relação à Charlotte,

mas para mim, através do roteiro, através de tudo que o filme apresenta, fica claro que ele amadureceu em relação ao amor por alguém,

no caso a Mary, e às vezes, por exemplo, no nosso caso, qualquer um de nós, se passássemos por uma experiência semelhante,

poderíamos ter cedido, e no caso o filme mostra o contrário, mostra o amadurecimento dele,

a resolução interna que ele dá para aquela prova.

Eu gostaria que você falasse um pouco mais sobre isso, porque é algo que é bastante importante.

Sem dúvida, nós passamos por pontos de... são crises, né Danilo?

A palavra crise significa mudança, são momentos de grandes mudanças.

O caso dele é uma grande mudança, a gente pode dizer, não é tanto assim, porque é só uma decisão sobre um relacionamento,

mas vejam, o personagem tem uma motivação relacionada ao amor.

Claro, depois vai se apresentar esse amor em outras nuances, não só o amor entre um homem e uma mulher,

esse amor vai se apresentar de outras formas, mas, nesse ponto, é uma decisão muito importante,

de acordo com a coerência que ele tem dentro dele.

Ele já encontrou o amor, por que ele vai voltar atrás?

Ele já encontrou aquilo que ele queria, que não tem a ver com desejo necessariamente,

mas ele já descobriu que é algo que tem coerência com o próprio destino dele.

Então, é um ponto muito importante sim na história, e muitas vezes nós não damos muita importância para isso.

A gente acha que as grandes decisões têm a ver com grandes coisas, com coisas gigantescas,

e não necessariamente, muitas vezes, tomamos decisões que são sim muito importantes para nós,

mas que aos olhos das outras pessoas não têm a menor importância.

Temos duas encruzilhadas, Gustavo, no filme que são muito importantes e que eu gostaria que você falasse

antes de irmos para o encerramento do nosso podcast.

A primeira delas é em relação ao acontecimento com a irmã dele, a Kit Kat.

Ela sofre um acidente de carro e isso vai gerar uma prova muito grande para ele, tanto para ela quanto para ele.

E há também a questão do pai dele, que adoece e que vai morrer.

Então, é algo muito importante esse momento do filme, tanto uma questão quanto a outra.

E em relação à irmã, ela sofre um acidente de carro e o Tim volta no passado para que isso não aconteça.

O fato é que quando ele volta para casa, ele percebe que a filha que ele tinha não é mais uma filha e agora é um filho,

ou seja, ele está alterando o destino.

E aí o pai dele lhe dá um grande ensinamento sobre isso.

E pouco depois, o próprio pai vai passar pela sua prova, que é a prova da morte, ou seja, o fim de sua vida.

E o Tim precisa entender isso e é algo que ele também não pode alterar.

E na nossa vida também as coisas são assim.

A gente imagina que tudo tem que ser como a gente quer que seja.

E o destino coloca coisas que fogem do nosso controle e que são pedagógicas para que a gente aprenda o que temos que aprender.

E claro, aí tem que ter consciência para que a gente não reclame da vida, dos deuses, das provas.

Enfim, o nome que queiramos dar para as forças superiores que operam na natureza.

Mas o fato é que há muito ensinamento, há muito aprendizado aí.

Por isso eu gostaria que você falasse dessas duas questões, para que a gente ampliasse um pouco a nossa visão em relação a tudo que a vida nos traz,

ou em relação a algo que ela está nos apresentando, para que a gente possa crescer como seres humanos,

diante dessas circunstâncias que nos são apresentadas.

Ah, sem dúvida. Inclusive ele volta mostrando para a irmã, ele volta com a irmã, mostrando para ela

que ela não deveria nem ter conhecido esse namorado dela, que causou tudo isso que ocorreu na vida dela, todos os problemas.

E aí mais uma vez se apresenta esse ensinamento de que, primeiro, que a gente não pode intervir em certas coisas dos demais,

em relação a certas coisas que acontecem, que a gente às vezes quer proteger, mas não consegue.

Porque, de certa forma, a pessoa precisa passar por essa experiência para que o aprendizado seja integrado.

É claro que ele tinha um sentimento pela irmã, ele amava a irmã, mas, por outro lado, ele teria que fazer essa percepção por si própria,

essa percepção do que tinha acontecido e acabou, claro, tendo que acontecer algo muito drástico,

que é um acidente de carro, para que ela se dê conta que ela estava bebendo demais, que ela precisava rever os seus relacionamentos,

rever, por exemplo, a questão de empregos, que ela saía de emprego toda hora, ou seja, rever o sentido da sua própria vida.

E eu acho que esse ponto do filme é muito legal porque vai colocando para o protagonista esse ensinamento muito profundo de que,

por mais que a gente tenha a capacidade ou tivesse a capacidade de voltar no tempo, ainda assim há coisas que não mudam,

porque precisam ser assimiladas independente do tempo, de forma atemporal dentro de nós,

para despertar coisas do nosso interior, da nossa alma, da nossa alma imortal, quem sabe,

aquilo que é fora do tempo, os valores, o sentido da vida que está para além do tempo, está para além da sequência de acontecimentos.

E isso é muito interessante porque, quando ele volta, ele se dá conta disso e aí ele faz um processo inverso, que é dialogar com a irmã a respeito disso.

Eles vão dialogando e ela está no hospital e eles dizem, ah, não vou sair daqui até que você me dê uma ideia, sobre que tipo de vida que você está levando.

E ela se dá conta, ela vai refletindo e ela se dá conta do que ela precisa fazer,

tanto que ela acaba até se casando depois com um amigo chato do Tim, que no fim das contas eles eram muito amigos, eles eram muito próximos,

e isso vai mostrando no filme. E claro, depois ele vai tendo um segundo, um terceiro filho, e quando a Mary está grávida do terceiro filho, o pai dele adoece.

E essa é a parte, esse é o clímax do filme, pelo menos na minha visão, é o clímax do filme, porque é o ponto mais importante da relação filosófica que ele tem com o tempo.

Exatamente, por isso que eu falei lá na questão que são duas encruzilhadas e essa realmente é muito profunda.

Exato, e aí ele vai se apresentar diante de outra encruzilhada, já sabendo da regra que ele não pode voltar no tempo depois do filho nascer.

E o pai dele tampouco pode fazer isso, porque o pai dele descobre que tem câncer no pulmão e ele fala que,

olha, se eu não tivesse fumado na minha juventude, não seria charmoso o suficiente para a mãe dele se apaixonar por ele.

E aí, bom, é um ponto bastante interessante, que é a inevitabilidade da morte, desse ciclo que vai se encerrando na nossa trajetória.

É como tudo na vida, e mostra o tempo como um ciclo, ou o tempo em ciclos.

O que é muito interessante, porque normalmente a gente vê o tempo como uma linha, como algo linear, e muitas vezes a gente esquece que o tempo também é composto de ciclos.

Assim como nossa própria vida tem ciclos.

Tem ciclos que, em relação a nossa idade, por exemplo, desde a infância, adolescência, fase adulta, velhice.

São ciclos diferentes que têm necessidades diferentes.

E nós temos um grande ciclo, que é a nossa vida como um todo, desde o nosso nascimento até a nossa morte.

E bom, mesmo tendo essa capacidade, a morte não tem como ser trapaceada nesse sentido.

E mesmo que eles tentassem ver alguma solução, não tinha uma solução aí.

E há coisas que, como ele mesmo diz, que se vive só uma vez.

O funeral do pai dele foi uma delas.

Também tem outras partes no filme que refletem isso, sobre esse viver uma vez só, aquele momento, que é quando ele está curtindo com a família, curtindo com os filhos.

Ele diz assim, tem momentos que eu nem tenho vontade de voltar no tempo, porque todos os instantes da vida são tão deliciosos.

É quando ele está curtindo, ele está presente, profundamente presente.

E aí o pai dele ensina algo para ele, um pouco antes de morrer, algo muito importante.

Que é algo que o pai dele tinha descoberto e que, como mestre do filho dele, transmite isso para ele.

Que é o seguinte, vive o dia como se fosse viver como qualquer pessoa.

E depois volta no tempo e revive esse mesmo dia, só que aí sem as pressões do dia.

Sem aquilo que nos tira a nossa atenção e a nossa consciência do dia.

De aproveitar o dia.

E ele faz isso, e ele se dá conta que, o quão a vida é maravilhosa e quantos momentos podem ser aproveitados sem aquele peso dos acontecimentos.

As pressões, as decisões, olhar como se fosse um observador, como se fosse um observador silencioso.

Até como nos ensina a obra Voz do Silêncio, esse observador que está sempre presente, olhando como se estivesse assistindo a um filme.

E que está ali vendo as experiências para poder se libertar e aprender mais, absorver mais da vida.

E ele vai fazendo isso, ele vai entendendo isso.

E bom, a Mary está grávida, os dias com o pai estão contados, porque ele ainda consegue voltar no tempo e falar com o pai, mesmo depois dele ter morrido.

Porque ele ainda consegue voltar no tempo e fazer visitas extras ao pai.

E aí chega o dia do nascimento da criança e é o último dia, o último tempo extra e ele decide ficar um tempinho a mais com o pai.

E aí tem um momento de amor que vai se apresentando, porque é um momento que ele declara todo o amor que ele tem pelo seu pai, que foi um mestre para ele, ensinou tudo o que ele sabe.

Tudo o que ele aprendeu na vida, as coisas mais importantes que ele aprendeu na vida, aprendeu pelo pai dele.

Claro, com a mãe também, mas aí no filme mostra justamente essa relação que ele tem com o pai.

E com o pai era sábio, tanto que no início do filme ele fala, ah, o meu pai parece que tem sempre o tempo nas mãos, disponível.

Porque ele justamente estava sempre em uma posição tranquila frente à vida, sobre as adversidades, sobre a vida.

E depois desse último tempo extra, o Tim vai vivendo a vida dele, vai terminando esse ciclo da história.

Bom, ele vai tendo o último aprendizado dele e o mais importante de todos e que ele descobre por si próprio, que é que ele não precisa mais voltar no tempo.

Ele não tem mais essa necessidade, porque ele descobriu que se ele viver cada momento, cada instante, mesmo com os erros, com os acertos, com os êxitos, com os pontos de vitória e derrota da vida,

ele vai aproveitar ao máximo tudo que o tempo lhe dispõe e ele não precisa mais voltar.

Ele não tem mais essa necessidade, ou seja, ele se basta a si mesmo.

Ele não precisa de algo externo mais para se desenvolver, para seguir sua vida e seguir o seu destino.

Como você falava antes, Danilo, entender um pouco do seu Dharma, ainda que não entenda totalmente, mas entender um pouco melhor sobre aquilo que está para além das ações e reações da vida, o sentido da sua vida.

Ah, mas o sentido da vida dele era só ter uma família?

Não, o sentido da vida dele é o amor.

Ele entendeu o sentido do amor. O amor em todas as coisas, em cada ato, em cada gesto, em cada olhar e como ele mesmo fala, eu viver minha vida comum, ver o sentido da minha vida comum.

E é isso que é tão interessante nesse filme e talvez seja o ponto principal da história.

A gente não precisa voltar no tempo para ver o sentido e consertar as coisas ou ver o sentido na nossa própria vida.

Quando a gente está consciente, quando a consciência está presente, quando a gente enxerga as coisas com clareza e sem o peso das nuances e da dualidade da vida,

a gente consegue enxergar a beleza que existe no tempo, no tempo e na experiência e como a vida é profunda e nos ensina a cada momento.

Esse filme, Gustavo, ele traz muitos ensinamentos bastante simples e ao mesmo tempo profundos.

E eu gostaria que você falasse, dentre os tópicos que você quiser abordar, eu gostaria que falasse também sobre essa ideia de viver o seu destino, como você destacou em uma das suas falas,

inclusive no Bhagavad Gita, o clássico hindu, há uma frase do Krishna que ele diz, é melhor viver o seu dharma do que querer viver o do outro.

Isso é muito interessante porque a gente precisa aprender a viver a nossa vida também, com consciência.

E isso nos é ensinado no filme, ou seja, as lições morais que ele nos traz em relação a escolher melhor as nossas decisões,

ou seja, colocar o aspecto moral em cada uma das tomadas de decisões da nossa vida, aprender com a simplicidade também que a vida nos apresenta e aproveitar bem o momento como também nos é ensinado no filme.

Bom, Danilo, acho que a principal reflexão desse filme é que, despretenciosamente, talvez não queira ensinar, não queira ser didático em alguma coisa na nossa vida,

mas como toda obra de arte nos traz algo, nos traz um ensinamento através da beleza,

eu colocaria aqui algo bem mais, talvez não esteja tão explícito no filme,

e eu acho que o diretor também tem essa visão, porque já vendo outros filmes dele, ele tem essa visão com relação à construção dos personagens dele.

Os personagens desse filme tem muitas debilidades, inclusive até são personagens que vão mostrar suas debilidades justamente em prol da comédia, das situações cômicas da vida.

Porém, a história vai nos mostrando que esses personagens, não dando ênfase para as coisas ruins deles, mas sim que para além dessas coisas ruins,

ou dessas coisas que parecem esquisitas, que temos, temos algo bom, e é isso que importa.

No fim das contas, o que temos de bom é o que importa, é o que fica, é o que permanece na nossa memória mais profunda.

E talvez teremos que aprender com isso, de se libertar um pouco dessas amarras que temos de magos, rancores, angústias, ansiedades, que nos conduzem muitas vezes a prisões.

E nos libertarmos dessas questões.

Libertar no sentido de resolver, não simplesmente jogar de lado, porque isso não vai resolver, mas que a gente possa dar ênfase, verificar em nós o que é mais importante,

as nossas prioridades em relação ao que temos de melhor, não só em nós, mas nos demais também.

Aprender a olhar, ter esse olhar diferente, vendo realmente o que é eterno em cada ser humano, o que é fundamental em cada ser humano, em cada relação que temos, para além das circunstâncias.

E quem sabe aí a gente possa ter uma vida com mais leveza, com mais profundidade e com mais equilíbrio.

Eu acho que é isso, Danilo, vejo pelo menos dessa forma, porque pela minha experiência também posso dizer que quando isso acontece, é como que canais de energia que abrem para nós.

Há fluxo, há vida, vejo dessa forma.

Dessa maneira encerramos então a nossa conversa desse podcast de hoje, e agradecendo a presença, Gustavo e Claro, desejando que seja sempre muito bem-vindo.

Muito obrigado, Danilo, por mais essa oportunidade e espero que seja de utilidade para todos os ouvintes, queridos que nos acompanham já há bastante tempo.

Sem dúvida, Gustavo. Para aqueles que queiram nos contatar, podem fazê-lo através do nosso site nova-acrópole.org.br e para quem quiser saber mais sobre o curso de filosofia para viver, basta também acessar o nosso site nova-acrópole.org.br.

Até a próxima.

A apelida deste podcast é de autoria de Anton Bruckner e chama-se Andante Quase Alegreto.

Questão de tempo A Matter of Time Cuestión de tiempo En fråga om tid 时间的问题

Olá pessoal, sejam todos muito bem-vindos a mais um podcast filosófico, atividade que

é promovida pela Organização Internacional Nova Acrópole do Brasil.

E para esse nosso podcast de hoje, recebemos o professor voluntário da sede Caxias do

Sul, Gustavo Massen.

Seja muito bem-vindo, Gustavo.

Obrigado, Danilo.

Olá a todos os nossos ouvintes e vamos para mais um conteúdo interessante e filosófico

para todos vocês.

Em nossa conversa de hoje, vamos fazer algumas reflexões filosóficas sobre o filme Questão

de Tempo.

Não vamos esgotar o tema, nossa ideia não é essa, e muito menos trazer aqui verdades

absolutas, pelo contrário.

Vamos conversar, vamos discorrer sobre aquilo que o filme nos ensina através do seu roteiro,

das suas ideias, das interpretações dos atores, enfim, das vivências que o filme

nos demonstra para que a gente possa viver em alguma medida aquilo que o filme traz enquanto

ensinamento de vida.

Esse filme chama-se About Time, em seu título original, lançado em 2013.

E ele lembra muito um outro filme que já é um clássico do cinema, Groundhog Day,

que é o feitiço do tempo.

Ou seja, ambos trazem essa tônica do tempo, do desenvolvimento humano, das experiências

humanas através do tempo, com consciência, e isso é muito importante.

E nós já havíamos falado várias vezes sobre esse filme, Questão de Tempo, de gravarmos

um podcast sobre ele, porque ele traz uma série de experiências humanas que dizem

respeito a todos nós, porque nós vivemos coisas semelhantes que os atores vivem no

filme, que o roteiro traz como ideia de experiência humana.

Eu gostaria que você começasse fazendo uma síntese sobre o filme, as principais ideias,

para que a gente comece então o nosso podcast de hoje.

Aproveitando, Danilo, que você mencionou esse filme, o título em português é O Feitiço

do Tempo, fantástico também, e tem um tema muito semelhante a esse filme aqui.

Bom, o filme vai seguir, na sua história, o personagem Tim, que tem uma vida bastante

pacata, bastante tranquila, no interior da Inglaterra.

Porém, ele é um personagem como todo jovem tem as suas crises, e no caso dele, ele tem

uma vontade muito grande de ter uma namorada, de poder ter experiência do amor.

E o filme começa como toda uma boa comédia romântica, com situações engraçadas, e

uma relação do herói da história com o amor, com a busca do amor.

E, obviamente, que o filme, aos poucos, aliás, não é óbvio, porque eu mesmo, quando fui

assistir ao filme, me surpreendi bastante.

O filme gradualmente vai se tornando uma reflexão bastante profunda sobre o tempo e sobre a

nossa relação com o tempo.

Então, a história vai girando em cima disso.

O Tim vai descobrindo que tem essa capacidade, o seu pai diz que os homens da família têm

a sua capacidade de voltar no tempo, não necessariamente ir ao futuro, mas voltam ao

passado que eles lembram, que eles têm de memória.

E, claro, isso não é o mais importante na história, o como que é feito isso, até

porque é de uma forma até bastante bobinha.

Eles vão num quarto escuro, fecham os olhos, serram os punhos e lembram do momento que

eles querem voltar e voltam naquele momento exato.

E aí podem fazer mudanças no seu passado.

O filme gira em torno dessas desventuras que ele vai tendo ao longo dessa descoberta, dessa

percepção que ele vai tendo ao longo do tempo.

E o primeiro ponto, que justamente é o que eu vou te perguntar, é sobre essa ideia do

tempo, do ponto de vista da filosofia, o que o filme nos traz enquanto aprendizado sobre

o tempo e sobre a consciência também que ele precisa desenvolver através das experiências.

É bastante engraçado quando ele descobre, ao fazer 21 anos, quando o pai lhe diz que

há uma tradição na família de viajantes do tempo em que eles podem voltar no tempo

e ter outras experiências.

E às vezes a gente se pensa assim ou se imagina assim voltando no tempo para corrigir

um erro, para aprender algo que a gente não aprendeu, enfim.

Mas as coisas são como são e elas acontecem como devem acontecer.

Por isso a questão do tempo e da consciência como aprendizado para que a gente possa crescer

mais e observar melhor as experiências, essa é a primeira questão que eu te faço, que

é um ponto importantíssimo no filme.

Tem a questão do destino também, ou seja, das coisas como elas devem acontecer e há

a ideia do karma também, que são as escolhas que a gente faz quando a gente não reconhece

o nosso destino.

Isso fica muito claro porque no filme ele várias vezes erra em algumas circunstâncias

e ele volta no tempo para tentar se corrigir e ele acaba errando de novo depois.

Isso é muito interessante porque há várias experiências dentro dessas três questões

que eu lhe fiz sobre o destino, o karma e a consciência como fator primordial de evolução.

Eu gostaria que você falasse um pouco sobre essas questões.

Sem dúvida, o pai dele, inclusive, quando explica para ele sobre essa capacidade que

os homens da família têm e quando o Tim inicialmente até desdenha isso e se posiciona

de uma forma cética e vai lá e faz um teste em relação a isso, ele lembra imediatamente

de uma situação embaraçosa que ele passou no dia anterior, que foi no ano novo, onde

ele se arrependeu de algo.

Ele ia beijar uma menina e acaba não beijando.

Ele volta no tempo e corrige isso.

Eu acho que ele vai falar com o pai sobre isso e, claro, na história, a família dele

não tem uma influência grande em grandes acontecimentos históricos.

Então, é uma capacidade que se estabelece justamente no cotidiano mais comum das pessoas.

Eu acho que é isso que talvez toque tanto.

Como seria a nossa vida se a gente pudesse voltar no tempo, pudesse corrigir certas coisas?

Já se coloca essa pergunta.

E no início, ele, obviamente, tem dificuldades.

Ele tem que fazer isso muitas vezes, vai voltando muitas vezes no tempo, porque ele não sabe

lidar com a capacidade que ele tem.

E o pai dele, inclusive, quando dá as instruções, ele diz assim,

é, vai ser uma vida complicada, mas instrui ele que ele deveria usar isso na melhor forma possível.

E aí é engraçado porque, nesse diálogo, ele diz assim, o dinheiro seria o mais óbvio.

E aí o pai dele diz, é, mas o seu tio estragou a vida dele buscando isso.

Eu nunca vi uma pessoa rica definitivamente feliz.

E aí ele pergunta pro pai o que ele fazia.

E o pai dele, como era professor, a paixão dele era os livros.

E ele diz, olha, eu li todos os livros que um ser humano poderia ou almejaria ler.

Os melhores livros que o ser humano poderia ler.

Quer dizer, ele aproveitou, ele já dá uma instrução que ele deve aproveitar como ele

internamente vê que seria o sentido.

E aí ele até brinca porque o Tim fala que imediatamente o que ele precisa é uma namorada.

E ele fala isso pro pai, ele diz assim, nossa, que grandioso.

Ou algo assim.

Então, no início, o Tim tem essa sede imediata de resolver problemas imediatos da vida dele.

Tanto que ele vai, em seguida vai a Londres e vai estudar, estuda direito e começa a trabalhar.

E aí ele conhece até um amigo do pai dele que é super mal-humorado e mora com esse

amigo do pai dele, que é diretor de teatro.

Mas a busca dele interna é uma busca de sentido do amor e isso é legal a gente perceber ao

longo do filme.

Esse é um tema central desse filme, inclusive.

E os personagens, claro, o diretor, que é o Richard Curtis, e também é o roteirista,

ele se dedica a mostrar personagens, claro, como toda comédia, caricatos, engraçados,

que tem as suas peculiaridades, suas esquisitices.

Mas, ao mesmo tempo, a gente vai percebendo que esses personagens são muito importantes

pra mostrar ao Tim o quanto a vida dele tem importância e tem sentido.

Mesmo na relação, muitas vezes, difícil, que aparece com estes personagens.

E, bom, até que numa ocasião, já passando um tempo em Londres, ele vai encontrar um

amigo dele que ele mesmo não gosta muito do amigo, mas aceita o convite pra saírem

juntos à noite.

E aí o amigo dele propôs a ele que fosse num restaurante no Encontro às Cegas, um

lugar onde você tinha que entrar no escuro completo e conhecer pessoas nesse lugar, você

não enxergaria nada.

E lá ele encontra a mulher que vai ser a mulher da vida dele, a Mary, que inclusive

é o mesmo nome da mãe dele.

E ao longo desse diálogo, que é bem interessante, eles vão se descobrindo sem se ver.

E a proposta do filme é bem interessante, porque eles não se viram até então, mas

vão se conhecendo pelo que eles são, por como eles se relacionam, como eles se portam

na vida, seus gostos.

E quando eles se veem pela primeira vez, o Tim, obviamente, logo se apaixona.

Eles trocam o telefone e mais tarde acaba perdendo esse telefone porque ele vai ajudar

o amigo do pai dele, que estava no mesmo dia que ele foi encontrar com a Mary, ele se depara

com um problema lá na peça, onde o ator dá um branco justamente no fim, no clímax

da história.

E quando o Tim volta pra casa, descobre isso e ele, como é uma pessoa muito generosa,

ele tenta ajudar.

E ele volta justamente antes do encontro.

E aí vai junto com um amigo dele, que é o Harry.

Ele consegue consertar a situação, porém ele perde o telefone na Mary, com isso porque

ele não tinha até então conhecido ela.

Ele lembra, mas não havia conhecido de fato.

E é muito engraçado o personagem do Harry, porque ele não se dá muito bem com o Tim.

E o Tim é muito generoso, como você bem lembrou, porque ao chegar em casa ele está

muito feliz por ter encontrado a Segas, a Mary, que vai ser o amor da vida dele.

No entanto, ele percebe o amigo do pai muito tristonho.

Só que a cena é engraçada, porque a maneira dele é muito lamuriosa, é muito reclamona.

E aí o Tim decide voltar no tempo e ajudar para que aquele fiasco que acontece no teatro

não aconteça.

O fato é que ele perde o telefone da Mary, porque ele voltou no tempo e alterou as coisas.

Então é muito curioso isso, porque ele mexe no destino, ele mexe no karma pela sua ação.

Então é muito curioso e reflexivo também o que acontece com ele nesse momento.

E aí acontece algo na história que é muito legal, porque a partir disso ele não desiste.

E claro, como toda comédia romântica, ele vai fazer de tudo para encontrar o seu amor.

Mas isso é interessante na história, porque ele pega um fato dela, porque ela gosta da

modelo Kate Moss, e aí ele descobre que vai ter uma exposição em tal lugar e ele fica

uma semana inteira naquela exposição, porque ele sabia que ela gostava da modelo.

Poderia estar ali.

E olha que interessante, mesmo tendo a capacidade de voltar no tempo, ele teve que romper a

incerteza, teve que romper a dúvida, porque não tinha a menor ideia se ele iria encontrar ela.

Mas claro, na história ele encontra, ele consegue encontrar ela, porém é um fiasco total.

Ele a encontra, tenta falar com ela e também não dá muito certo.

Até porque a Mary já estava namorando com outro cara nesse meio tempo.

E aí ele descobre onde eles se encontraram pela primeira vez, que foi na casa da amiga da Mary.

E aí lá ele consegue efetivamente se encontrar com ela.

Mas tem uma cena nesse encontro, inclusive, que é bem legal, porque ele sinceramente

se coloca na posição de que ele gosta muito dela só pelo olhar.

E isso é uma característica desse personagem também.

Ele é muito verdadeiro.

Ele é muito verdadeiro nos seus sentimentos.

E ele coloca isso pra ela e no que ele coloca isso pra ela, ela vê e sente algo.

E bom, aí acontece que eles conseguem começar o seu relacionamento e bom, aí o filme segue.

Esse ponto aí até então é um período em que o Tim está aprendendo algumas coisas sobre si.

Essa segurança em si mesmo, de romper limites e barreiras.

É como um herói que está descobrindo seus potenciais, que não tem muito a ver com essa

capacidade da viagem no tempo.

A viagem no tempo aí, ela ainda é uma questão circunstancial e que ajuda ele a consertar

certas coisas.

Mas ele vai descobrindo que nem tudo dá pra consertar.

Nem tudo é possível consertar.

Nem tudo é possível fazer do jeito perfeito.

Eu não contei, antes de acontecer tudo isso com a Mary, ele teve o amor de verão, que

foi uma amiga da irmã dele que foi até a casa deles lá no verão e passa o verão

todo lá, uma menina super bonita, que até quem faz é a Margot Robin.

E ele não consegue, ele tenta ir e voltar no tempo várias vezes e tenta conquistar

ela e não adianta.

E ele mesmo tem a lição de que voltar no tempo, mesmo que eu consiga voltar muitas

vezes no tempo, eu não consigo fazer com que ninguém me ame.

Então tem que ser alguém que realmente tem algum sentimento por mim, que foi o que aconteceu

com a Mary.

Então até esse ponto o Tim está descobrindo essa capacidade dele de se descobrir também.

E aí você falou do karma e dharma, que muitas vezes a gente vê como algo grandioso, e realmente

é o dharma como destino, como o nosso sentido, o sentido da nossa vida sem dúvida é grandioso,

mas a gente tem que entender que nós descobrimos isso muitas vezes nas situações mais simples

da vida, e em momentos em que a gente tem que tomar decisões sobre rumos da nossa vida,

quer dizer, escolher quem a gente quer ser, quem a gente no íntimo quer ser.

Só que pra isso a gente tem que se descobrir, tem que se descobrir através das ações

e circunstâncias da vida, a gente vai tendo essas oportunidades de sim aos tropeços muitas

vezes e até situações cômicas e engraçadas, às vezes situações tristes, como a gente

vai ver mais pra frente aqui na história, mas de fato é que esse filme vai mostrando

que apesar da grandiosidade que o tempo tem, nós descobrimos muito do seu sentido no cotidiano,

nas situações mais simples, mais até triviais, ou que pelo menos achamos que é trivial.

Exatamente, tanto é que a Charlotte, que é amiga da irmã dele, a Kit Kat, numa situação

bem comum, bem simples, ele tem uma primeira experiência com essa questão de voltar no tempo,

ele quer conquistar a Charlotte, que é o, entre aspas, amor de verão que ele tem, porque

ela vai passar o verão na casa da família e o Tim se apaixona por ela, então ele quer

conquistá-la, ele vai passar creme nela, ele derruba, ele é bem atrapalhado, e as

cenas são bem engraçadas inclusive, porque ele sempre erra e volta no tempo pra tentar

agir de uma maneira melhor ou mais natural, ou seja, ele quer mudar o destino, porque

o karma, que é essa lei de ação, ou seja, ele gera uma ação e naturalmente que a vida

apresenta algo em virtude dessa ação, ou seja, é uma prova e uma experiência que

ele tem que passar, o fato é que o destino apresenta no fim dessa situação, que ela

não quer ter uma relação com ele, não naquele momento, e o fato é que ele quer

mudar o destino, só que não há como fazer isso, porque ele passa pelo tempo, passa

pelas experiências, sem consciência do que está acontecendo, isso é muito semelhante,

por exemplo, ao filme Feitiço do Tempo, onde o ator comete uma série de erros sem consciência,

eu digo isso porque a pergunta que eu te faço vai nesse sentido, em questão de tempo,

o Tim passa pelas mesmas provas, pelas experiências que, como você bem lembra, são comuns e

até corriqueiras, que a gente poderia pensar, bom, não tem nada para aprender ali, e é

o que o Tim vive, é o que nós vivemos, às vezes em nossas vidas também, quando a gente

passa por uma experiência, não registra o que aconteceu, por falta de atenção, por

falta de consciência, e as coisas se repetem, e a gente não entende a nossa responsabilidade

em aprender o que está ali, ou o que a gente gerou para que aquilo acontecesse, e também

o que precisamos aprender, portanto, eu gostaria que você falasse dessa ideia da consciência

como processo de aprendizado nas nossas vidas, isso é muito importante, é algo que

o filme traz de maneira bastante explícita, bastante evidente.

Para isso a gente não precisa voltar no tempo, como o Tim, simplesmente podemos aprender

com as experiências que já passamos, se refletimos sobre aquilo que fazemos, e o que

se entende aqui por reflexão, é se despir de julgamento sobre o que aconteceu e ver

as coisas exatamente como elas são, como aconteceram, e aprender com isso, o que eu

posso tirar de lição a partir daquilo que aconteceu comigo, então se algo aconteceu

errado, o que aconteceu, o que houve, qual foi o ponto em que isso levou para um erro,

por exemplo, e isso vai, como você bem disse, despertando em mim maior consciência dos

meus atos, das minhas ações mesmo, e assim como o Tim vai aprendendo também que tem

certas coisas que ele não tem domínio, ou seja, a decisão das outras pessoas em relação

aos sentimentos que elas têm, não passam pelo seu juízo, pelo contrário, ele tem

que aceitar que tem coisas que ele não tem domínio nem poder, como os estoicos nos ensinam

também com o Epíteto, por exemplo, que fala que tem coisas que dependem de nós e tem

coisas que não dependem, as coisas que dependem de nós tem a ver com as nossas próprias

ações e os nossos próprios valores que empregamos nessas ações, as nossas próprias decisões,

porém todo o resto não nos compete, são decisões dos demais ou são circunstâncias

que vão acontecendo e se colocando de acordo a uma complexa trama de acontecimentos que

é o carma, então eu tenho meu próprio carma, sem dúvida, minha própria lei de ação e reação

agindo em mim mesmo, mas também tem toda uma complexidade e que a gente conforme vamos

aceitando isso também, nós nos posicionamos melhor frente à vida, nós nos colocamos

de uma maneira mais tranquila e aceita melhor, não passivamente, mas ativamente as circunstâncias,

ativamente porque eu posso tomar decisões para melhorar as situações e circunstâncias

em relação a mim mesmo, colocando mais consciência mesmo, e você bem colocou sobre isso porque

o personagem acaba nos ensinando isso, nós não voltamos no tempo, mas nós temos memória,

nós temos a capacidade de lembrar o que fizemos e a partir disso poder fazer as correções necessárias

a partir da reflexão, agora se eu não me dou conta do que aconteceu, o porquê, se eu não tenho esse tempo

e aí colocamos também o tempo para isso, um espaço e um tempo para as nossas reflexões,

dificilmente a gente vai corrigir os nossos erros e quizá vamos até repeti-los.

Com certeza, e para mim um ponto importante aonde se percebe que ele tomou consciência um pouco mais

sobre a relação dele com a Mary, ou seja, ele despertou dentro dessa perspectiva de uma tomada

de consciência em alguma medida, é quando ele decide se casar com a Mary, porque ele reencontra a Charlotte

e aí há uma nova chance, uma nova possibilidade, só que ele recusa por consciência e ele volta correndo para casa,

ou seja, há uma decisão consciente, eu gostaria que você falasse desse ponto porque eu acho que é muito relevante.

Sim, ele toma a decisão de casar com a Mary depois de ter o reencontro com seu amor de verão,

que ficou no passado, então é interessante porque ele se encontra com o passado dele e há uma ponta que não havia sido fechada dentro dele,

ele ainda sentia algo pela Charlotte e tem um ponto que ele toma decisão, porque eles se encontram, vão jantar juntos,

ele chega à porta do apartamento dela, porém ele toma a decisão que a vida dele, o futuro dele não era esse,

e veja, claro, há uma construção aí, isso não é uma decisão que veio do nada ou veio a partir de algo espontâneo,

a decisão em si é imediata, porém se estabeleceu toda uma sequência de experiências que ele foi tendo

para chegar ao ponto de ele tomar a decisão do que ele quer para o futuro dele e não abrir mão disso,

porque ele poderia ter aberto mão, mas não abriu.

E esse ponto eu gostaria que você falasse um pouco mais, porque a reflexão que me traz esse filme,

quando eu assisti, naquele momento eu imaginei até que ele fosse ceder ao seu desejo, à sua tentação,

ou até mesmo algum sentimento que pudesse ter ficado no coração dele em relação à Charlotte,

mas para mim, através do roteiro, através de tudo que o filme apresenta, fica claro que ele amadureceu em relação ao amor por alguém,

no caso a Mary, e às vezes, por exemplo, no nosso caso, qualquer um de nós, se passássemos por uma experiência semelhante,

poderíamos ter cedido, e no caso o filme mostra o contrário, mostra o amadurecimento dele,

a resolução interna que ele dá para aquela prova.

Eu gostaria que você falasse um pouco mais sobre isso, porque é algo que é bastante importante.

Sem dúvida, nós passamos por pontos de... são crises, né Danilo?

A palavra crise significa mudança, são momentos de grandes mudanças.

O caso dele é uma grande mudança, a gente pode dizer, não é tanto assim, porque é só uma decisão sobre um relacionamento,

mas vejam, o personagem tem uma motivação relacionada ao amor.

Claro, depois vai se apresentar esse amor em outras nuances, não só o amor entre um homem e uma mulher,

esse amor vai se apresentar de outras formas, mas, nesse ponto, é uma decisão muito importante,

de acordo com a coerência que ele tem dentro dele.

Ele já encontrou o amor, por que ele vai voltar atrás?

Ele já encontrou aquilo que ele queria, que não tem a ver com desejo necessariamente,

mas ele já descobriu que é algo que tem coerência com o próprio destino dele.

Então, é um ponto muito importante sim na história, e muitas vezes nós não damos muita importância para isso.

A gente acha que as grandes decisões têm a ver com grandes coisas, com coisas gigantescas,

e não necessariamente, muitas vezes, tomamos decisões que são sim muito importantes para nós,

mas que aos olhos das outras pessoas não têm a menor importância.

Temos duas encruzilhadas, Gustavo, no filme que são muito importantes e que eu gostaria que você falasse

antes de irmos para o encerramento do nosso podcast.

A primeira delas é em relação ao acontecimento com a irmã dele, a Kit Kat.

Ela sofre um acidente de carro e isso vai gerar uma prova muito grande para ele, tanto para ela quanto para ele.

E há também a questão do pai dele, que adoece e que vai morrer.

Então, é algo muito importante esse momento do filme, tanto uma questão quanto a outra.

E em relação à irmã, ela sofre um acidente de carro e o Tim volta no passado para que isso não aconteça.

O fato é que quando ele volta para casa, ele percebe que a filha que ele tinha não é mais uma filha e agora é um filho,

ou seja, ele está alterando o destino.

E aí o pai dele lhe dá um grande ensinamento sobre isso.

E pouco depois, o próprio pai vai passar pela sua prova, que é a prova da morte, ou seja, o fim de sua vida.

E o Tim precisa entender isso e é algo que ele também não pode alterar.

E na nossa vida também as coisas são assim.

A gente imagina que tudo tem que ser como a gente quer que seja.

E o destino coloca coisas que fogem do nosso controle e que são pedagógicas para que a gente aprenda o que temos que aprender.

E claro, aí tem que ter consciência para que a gente não reclame da vida, dos deuses, das provas.

Enfim, o nome que queiramos dar para as forças superiores que operam na natureza.

Mas o fato é que há muito ensinamento, há muito aprendizado aí.

Por isso eu gostaria que você falasse dessas duas questões, para que a gente ampliasse um pouco a nossa visão em relação a tudo que a vida nos traz,

ou em relação a algo que ela está nos apresentando, para que a gente possa crescer como seres humanos,

diante dessas circunstâncias que nos são apresentadas.

Ah, sem dúvida. Inclusive ele volta mostrando para a irmã, ele volta com a irmã, mostrando para ela

que ela não deveria nem ter conhecido esse namorado dela, que causou tudo isso que ocorreu na vida dela, todos os problemas.

E aí mais uma vez se apresenta esse ensinamento de que, primeiro, que a gente não pode intervir em certas coisas dos demais,

em relação a certas coisas que acontecem, que a gente às vezes quer proteger, mas não consegue.

Porque, de certa forma, a pessoa precisa passar por essa experiência para que o aprendizado seja integrado.

É claro que ele tinha um sentimento pela irmã, ele amava a irmã, mas, por outro lado, ele teria que fazer essa percepção por si própria,

essa percepção do que tinha acontecido e acabou, claro, tendo que acontecer algo muito drástico,

que é um acidente de carro, para que ela se dê conta que ela estava bebendo demais, que ela precisava rever os seus relacionamentos,

rever, por exemplo, a questão de empregos, que ela saía de emprego toda hora, ou seja, rever o sentido da sua própria vida.

E eu acho que esse ponto do filme é muito legal porque vai colocando para o protagonista esse ensinamento muito profundo de que,

por mais que a gente tenha a capacidade ou tivesse a capacidade de voltar no tempo, ainda assim há coisas que não mudam,

porque precisam ser assimiladas independente do tempo, de forma atemporal dentro de nós,

para despertar coisas do nosso interior, da nossa alma, da nossa alma imortal, quem sabe,

aquilo que é fora do tempo, os valores, o sentido da vida que está para além do tempo, está para além da sequência de acontecimentos.

E isso é muito interessante porque, quando ele volta, ele se dá conta disso e aí ele faz um processo inverso, que é dialogar com a irmã a respeito disso.

Eles vão dialogando e ela está no hospital e eles dizem, ah, não vou sair daqui até que você me dê uma ideia, sobre que tipo de vida que você está levando.

E ela se dá conta, ela vai refletindo e ela se dá conta do que ela precisa fazer,

tanto que ela acaba até se casando depois com um amigo chato do Tim, que no fim das contas eles eram muito amigos, eles eram muito próximos,

e isso vai mostrando no filme. E claro, depois ele vai tendo um segundo, um terceiro filho, e quando a Mary está grávida do terceiro filho, o pai dele adoece.

E essa é a parte, esse é o clímax do filme, pelo menos na minha visão, é o clímax do filme, porque é o ponto mais importante da relação filosófica que ele tem com o tempo.

Exatamente, por isso que eu falei lá na questão que são duas encruzilhadas e essa realmente é muito profunda.

Exato, e aí ele vai se apresentar diante de outra encruzilhada, já sabendo da regra que ele não pode voltar no tempo depois do filho nascer.

E o pai dele tampouco pode fazer isso, porque o pai dele descobre que tem câncer no pulmão e ele fala que,

olha, se eu não tivesse fumado na minha juventude, não seria charmoso o suficiente para a mãe dele se apaixonar por ele.

E aí, bom, é um ponto bastante interessante, que é a inevitabilidade da morte, desse ciclo que vai se encerrando na nossa trajetória.

É como tudo na vida, e mostra o tempo como um ciclo, ou o tempo em ciclos.

O que é muito interessante, porque normalmente a gente vê o tempo como uma linha, como algo linear, e muitas vezes a gente esquece que o tempo também é composto de ciclos.

Assim como nossa própria vida tem ciclos.

Tem ciclos que, em relação a nossa idade, por exemplo, desde a infância, adolescência, fase adulta, velhice.

São ciclos diferentes que têm necessidades diferentes.

E nós temos um grande ciclo, que é a nossa vida como um todo, desde o nosso nascimento até a nossa morte.

E bom, mesmo tendo essa capacidade, a morte não tem como ser trapaceada nesse sentido.

E mesmo que eles tentassem ver alguma solução, não tinha uma solução aí.

E há coisas que, como ele mesmo diz, que se vive só uma vez.

O funeral do pai dele foi uma delas.

Também tem outras partes no filme que refletem isso, sobre esse viver uma vez só, aquele momento, que é quando ele está curtindo com a família, curtindo com os filhos.

Ele diz assim, tem momentos que eu nem tenho vontade de voltar no tempo, porque todos os instantes da vida são tão deliciosos.

É quando ele está curtindo, ele está presente, profundamente presente.

E aí o pai dele ensina algo para ele, um pouco antes de morrer, algo muito importante.

Que é algo que o pai dele tinha descoberto e que, como mestre do filho dele, transmite isso para ele.

Que é o seguinte, vive o dia como se fosse viver como qualquer pessoa.

E depois volta no tempo e revive esse mesmo dia, só que aí sem as pressões do dia.

Sem aquilo que nos tira a nossa atenção e a nossa consciência do dia.

De aproveitar o dia.

E ele faz isso, e ele se dá conta que, o quão a vida é maravilhosa e quantos momentos podem ser aproveitados sem aquele peso dos acontecimentos.

As pressões, as decisões, olhar como se fosse um observador, como se fosse um observador silencioso.

Até como nos ensina a obra Voz do Silêncio, esse observador que está sempre presente, olhando como se estivesse assistindo a um filme.

E que está ali vendo as experiências para poder se libertar e aprender mais, absorver mais da vida.

E ele vai fazendo isso, ele vai entendendo isso.

E bom, a Mary está grávida, os dias com o pai estão contados, porque ele ainda consegue voltar no tempo e falar com o pai, mesmo depois dele ter morrido.

Porque ele ainda consegue voltar no tempo e fazer visitas extras ao pai.

E aí chega o dia do nascimento da criança e é o último dia, o último tempo extra e ele decide ficar um tempinho a mais com o pai.

E aí tem um momento de amor que vai se apresentando, porque é um momento que ele declara todo o amor que ele tem pelo seu pai, que foi um mestre para ele, ensinou tudo o que ele sabe.

Tudo o que ele aprendeu na vida, as coisas mais importantes que ele aprendeu na vida, aprendeu pelo pai dele.

Claro, com a mãe também, mas aí no filme mostra justamente essa relação que ele tem com o pai.

E com o pai era sábio, tanto que no início do filme ele fala, ah, o meu pai parece que tem sempre o tempo nas mãos, disponível.

Porque ele justamente estava sempre em uma posição tranquila frente à vida, sobre as adversidades, sobre a vida.

E depois desse último tempo extra, o Tim vai vivendo a vida dele, vai terminando esse ciclo da história.

Bom, ele vai tendo o último aprendizado dele e o mais importante de todos e que ele descobre por si próprio, que é que ele não precisa mais voltar no tempo.

Ele não tem mais essa necessidade, porque ele descobriu que se ele viver cada momento, cada instante, mesmo com os erros, com os acertos, com os êxitos, com os pontos de vitória e derrota da vida,

ele vai aproveitar ao máximo tudo que o tempo lhe dispõe e ele não precisa mais voltar.

Ele não tem mais essa necessidade, ou seja, ele se basta a si mesmo.

Ele não precisa de algo externo mais para se desenvolver, para seguir sua vida e seguir o seu destino.

Como você falava antes, Danilo, entender um pouco do seu Dharma, ainda que não entenda totalmente, mas entender um pouco melhor sobre aquilo que está para além das ações e reações da vida, o sentido da sua vida.

Ah, mas o sentido da vida dele era só ter uma família?

Não, o sentido da vida dele é o amor.

Ele entendeu o sentido do amor. O amor em todas as coisas, em cada ato, em cada gesto, em cada olhar e como ele mesmo fala, eu viver minha vida comum, ver o sentido da minha vida comum.

E é isso que é tão interessante nesse filme e talvez seja o ponto principal da história.

A gente não precisa voltar no tempo para ver o sentido e consertar as coisas ou ver o sentido na nossa própria vida.

Quando a gente está consciente, quando a consciência está presente, quando a gente enxerga as coisas com clareza e sem o peso das nuances e da dualidade da vida,

a gente consegue enxergar a beleza que existe no tempo, no tempo e na experiência e como a vida é profunda e nos ensina a cada momento.

Esse filme, Gustavo, ele traz muitos ensinamentos bastante simples e ao mesmo tempo profundos.

E eu gostaria que você falasse, dentre os tópicos que você quiser abordar, eu gostaria que falasse também sobre essa ideia de viver o seu destino, como você destacou em uma das suas falas,

inclusive no Bhagavad Gita, o clássico hindu, há uma frase do Krishna que ele diz, é melhor viver o seu dharma do que querer viver o do outro.

Isso é muito interessante porque a gente precisa aprender a viver a nossa vida também, com consciência.

E isso nos é ensinado no filme, ou seja, as lições morais que ele nos traz em relação a escolher melhor as nossas decisões,

ou seja, colocar o aspecto moral em cada uma das tomadas de decisões da nossa vida, aprender com a simplicidade também que a vida nos apresenta e aproveitar bem o momento como também nos é ensinado no filme.

Bom, Danilo, acho que a principal reflexão desse filme é que, despretenciosamente, talvez não queira ensinar, não queira ser didático em alguma coisa na nossa vida,

mas como toda obra de arte nos traz algo, nos traz um ensinamento através da beleza,

eu colocaria aqui algo bem mais, talvez não esteja tão explícito no filme,

e eu acho que o diretor também tem essa visão, porque já vendo outros filmes dele, ele tem essa visão com relação à construção dos personagens dele.

Os personagens desse filme tem muitas debilidades, inclusive até são personagens que vão mostrar suas debilidades justamente em prol da comédia, das situações cômicas da vida.

Porém, a história vai nos mostrando que esses personagens, não dando ênfase para as coisas ruins deles, mas sim que para além dessas coisas ruins,

ou dessas coisas que parecem esquisitas, que temos, temos algo bom, e é isso que importa.

No fim das contas, o que temos de bom é o que importa, é o que fica, é o que permanece na nossa memória mais profunda.

E talvez teremos que aprender com isso, de se libertar um pouco dessas amarras que temos de magos, rancores, angústias, ansiedades, que nos conduzem muitas vezes a prisões.

E nos libertarmos dessas questões.

Libertar no sentido de resolver, não simplesmente jogar de lado, porque isso não vai resolver, mas que a gente possa dar ênfase, verificar em nós o que é mais importante,

as nossas prioridades em relação ao que temos de melhor, não só em nós, mas nos demais também.

Aprender a olhar, ter esse olhar diferente, vendo realmente o que é eterno em cada ser humano, o que é fundamental em cada ser humano, em cada relação que temos, para além das circunstâncias.

E quem sabe aí a gente possa ter uma vida com mais leveza, com mais profundidade e com mais equilíbrio.

Eu acho que é isso, Danilo, vejo pelo menos dessa forma, porque pela minha experiência também posso dizer que quando isso acontece, é como que canais de energia que abrem para nós.

Há fluxo, há vida, vejo dessa forma.

Dessa maneira encerramos então a nossa conversa desse podcast de hoje, e agradecendo a presença, Gustavo e Claro, desejando que seja sempre muito bem-vindo.

Muito obrigado, Danilo, por mais essa oportunidade e espero que seja de utilidade para todos os ouvintes, queridos que nos acompanham já há bastante tempo.

Sem dúvida, Gustavo. Para aqueles que queiram nos contatar, podem fazê-lo através do nosso site nova-acrópole.org.br e para quem quiser saber mais sobre o curso de filosofia para viver, basta também acessar o nosso site nova-acrópole.org.br.

Até a próxima.

A apelida deste podcast é de autoria de Anton Bruckner e chama-se Andante Quase Alegreto.