Você sofria bullying na escola?
Eu passei por uma situação um pouco complicada, na escola...
Eu costumo falar que eu era o alvo de bullying completo...
Eu sofri bullying em 5 escolas diferentes que eu estudei...
Gorda, preta, banguela, porque eu não tinha o dente da frente e, segundo as pessoas, nerd.
Eu fui desenvolvendo uma falta de vontade de ir pra escola. Então eu sempre inventava alguma coisa:
Ah, eu tô com dor de barriga, não quero ir pra escola, ai, tô enjoada, não quero ir pra escola...
Sofri bastante bullying por conta que eu gostava de me vestir com roupas que eram meio que "uniforme masculino".
Eu me importava muito porque a gente queria fazer parte de um grupo, e eu não me encaixava nos grupos, sabe?
As meninas não queriam brincar comigo porque eu não tava dentro do padrão das menininhas que gostavam de brincar de boneca...
E os meninos não queriam brincar comigo porque eu era menina.
A maioria das pessoas gays e pessoas negras não gostam dessa fase da escola porque tem essa coisa do bullying e que a gente tenta, tipo, tirar da nossa vida,
e aí quando a gente se encontra com ela na fase adulta, a gente fica assustado.
Eu gosto de dizer racismo, mesmo. Ainda que haja o bullying, ele tá abaixo do racismo, né?
Então, pô, você é burro, você é burro também, e tal. Mas é muito diferente quando você fala: tá, mas você é burro e você é um macaco.E você é o negrinho carvão...
Tipo, é outro lugar, né?
O que me disseram foi pouco perto das violências físicas. Eu caí na escola e os moleques chutaram a minha boca.
E aí morreu o nervo do dente de leite e os dentes de leite começaram a ficar pretos, e os permanentes nasceram, tipo, todos tortos.
Eu tinha um canino no céu da boca. Tive que usar aparelho durante muito tempo. E aí eu perguntei pra minha mãe: "Mãe quando foi?" E eu tava no pré.
Eu sofria muito bullying, assim, do tipo, ah, ela joga video-game, será que ela é homem? Sabe? As meninas comentavam isso de mim...
E essas coisas me afetavam muito e eu achava isso muito esquisito, eu comecei a achar que eu tinha algum problema...
E às vezes eu chegava da escola e chorava todo dia...
Porque eu lembrava delas falando de mim, apontando o dedo...
Eu lembro da primeira aula de educação física do segundo grau.
Eram duas professoras, aí elas tavam pesando os alunos, e falando, fazendo algum comentário sobre o peso, que a pessoa tinha que melhorar, não sei o quê...
Quando chegou a minha vez, eu era o mais gordinho da sala, eu chego, subo na balança e dá 105 quilos.
Ela vira para mim e fala: meu Deus do céu, você é um obeso mórbido. Com 15 anos, você tá pesando isso.
Eu tinha 1m87, cara. Não tem como eu tá... Se eu tava acima do meu peso, eu tava 15 quilos acima do meu peso, que seja.
Eu acho que não é certo você falar isso pra ninguém. Aí aquele dia o que que aconteceu? Eu virei o obeso mórbido da sala, né?
Teve uma aluna que fez um blog pra falar mal, ela falou mal, se não me engano, de 17 alunos e 3 professores. Tipo, ela expôs uma coisa que não era da conta dela,
e que me afetou. E eu lembro que ela falou coisas bem piores de outras pessoas, como por exemplo de um menino negro, que ela falou que ele comia lixo...
Só porque ele era negro.
Eu sempre fui uma criança muito grande pra minha idade. E o que eu tenho de grande, eu tenho de boba.
Quando eu chegava na escola, era o alvo fácil pra piada, né, porque era uma menina muito grande e mais gordinha.
Sempre mexiam comigo, jogavam bolinha de papel, ficavam colocando apelido...
E uma vez chegou num nível extremo que eu apanhei de um menino na escola simplesmente porque ele não ia com a minha cara.
Eu fazia o bullying e recebia o bullying. Era natural.
Tinha uma menina que ela tinha o cabelo que fazia uma curva aqui, né... E ela era bem queixuda. Eu chamava ela de Juliana Cabeça de Coração.
Se eu tivesse a consciência que eu tenho hoje, naquela época, eu não faria esse tipo de brincadeira, sem dúvida alguma.
Então eu desejo muito que hoje em dia ele saiba lidar com pessoas diferentes do que ele.
As palavras que elas falaram para mim, até hoje me marcam, sabe? Então, assim, eu acho que as pessoas têm que pensar mais antes de fazer esse tipo de coisa.
E aí eu comecei a pensar em si mesmo, o que é que tem de errado comigo... Então eu comecei a ter esse processo dentro da minha cabeça...
Foi um processo muito longo, mas eu melhorei muito nos últimos anos com o fato de que... meu... deixa a pessoa lá...
Relevar, não chorar depois...
Né? Já aconteceu... Agora não acontece mais...
Tô bem mais firme...
E relevar. Essa é a dica que eu dei para mim mesma.