Pai e filha discutem a relação | Jogo da sinceridade (EP. 4)
Queria que a minha filha falasse mais comigo...
É mentira... Pode por de verdade...
Meu nome é Julio, eu sou gerente de restaurante, e tenho 42 anos.
Meu nome é Pietra, tenho 14 anos e eu não tenho profissão.
Pelo que eu entendi vai ser uma dinâmica, né? É jogo da verdade ou alguma coisa assim, por exemplo...
Vai ser interessante, (Semelhante...) talvez a gente brigue depois de sair daqui? Talvez! Mas vai ser bem legal!
Mas a gente pode brigar durante, também... (É, não duvido nada...)
Meu pai poderia mudar algumas coisas nele mesmo...
Sem dúvida. Várias, aliás.
Todo mundo tem, todo mundo tem que... (Podia parar de fumar) Todo mundo tem que estar sempre numa constante (Evoluindo)...
Sim, ok... (Melhora) Você poderia, tipo, parar de fumar, você poderia reclamar menos, você poderia me levar mais no cinema...
E me deixar sair mais. (Ahã...)
Então, existe uma linha tênue aí que é um limite. As coisas têm que ter limite.
Mas o meu limite é muito curto.
É o limite satisfatório pra sua idade, tá ótimo. (Claro que não!)
Tem umas coisas que eu não entendo sobre você.
É um sono eterno, assim, é um sono eterno... (Olha quem fala...) Não, mas eu tenho 42 anos. (E eu tenho 14...) E eu trabalho, você não faz nada. Você estuda.
Não, mas assim, ela tem coisas que são relacionadas à mulher que, por mais que eu seja um pai que tenta ser moderno e desconstruído, e tentar...
criá-la ou direcioná-la, da mesma forma tem coisas que são muito mais relacionadas ao feminino, por exemplo, que... (A minha bipolaridade)
que é muito complicado eu lidar. Tem coisas que... minha irmã é uma pessoa que me ajuda muito, assim e tal. Mas
Mas nesse ponto eu acho que às vezes eu tenho uma deficiência de falar... putz, isso eu não entendo.
Eu prefiro a comida da minha mãe.
Cê prefere a comida da sua mãe? (Você não cozinha pra mim!)
Como no restaurante... (Não, mas e quando eu cozinho...) Minha mãe é confeiteira, que se acha? (Tá...)
Queria que minha filha falasse mais comigo...
É mentira... Pode por de verdade, que não é não. (Não!) Pode por, é mentira, é esse aqui. (Não, não!) Porque eu falo muito, tá, e ele reclama.
Ele fala: Uma hora cê não vai parar de falar, não? (Não, você fala com as suas amigas no celular.)
Quando eu sento na poltrona, que eu falo, pai vamo conversar? Ele olha pra mim... Você olha pra minha cara e fica, tipo... Sobre?
E eu não converso?
5 segundos, depois você enjoa e fica no celular. (Mas converso. Mas converso.)
Hum... tá bom.
Tem hábitos seus que me incomodam.
Totalmente. Tem vários. Posso listar, assim, uma lista enorme.
Nossa, cê faz um barulho que me irrita totalmente, às vezes eu tô falando com você tá no celular, aí você finge que não tá me ouvindo, depois você: quê?
Mas cê aprendeu isso com quem? (O quê?)
Cê faz igualzinho... (O quê?)
Isso que você acabou de falar. (Faço? Não, não faço!)
Igualzinho. (Não faço, não) Uhum... sei... (Ah, mas tem várias coisas, é que agora... Vai, sua vez...) Quer continuar? (Não, eu poderia continuar, mas pode ir...)
Eu finjo não ligar pros seus crushes ou namoro...
Uma vez eu tava conversando com a Sofia por ligação, aí você começou a falar... (Não!) ...quem que é esse aí, que isso? (Mas...) Fiquei, tipo...
Eu não ligo porque eu tô sabendo o que você tá fazendo. (Acredita no que eu falo, mas eu posso falar muito mais, mas eu não vou falar...) Tá se entregando?
Não! Para, pai! (Não, mas ué, você é um ser humano, você é um indivíduo, você tem direito a ter suas particularidades, isso é totalmente aceitável...
(É, mas...) Como eu também tenho...
Credo! Próxima pergunta! Próxima pergunta, credo.
Eu queria que você me deixasse fazer mais coisas.
Totalmente! Ontem, nossa, ontem a gente brigou. (Porque eu mandei você estudar...) É!!!
Nossa! Nossa! (Cês entenderam agora, né? Agora, é tipo, uma coisa revoltante, realmente.) Por mim, meia hora tava ótimo. (É um fardo! É um fardo!) Nossa!
Cê falou bem: por você.
Ele queria que eu tirasse o que? Nove, dez, oito... (Não, eu não quero isso...)
Eu cobro a questão do estudo não por uma questão do tipo, puta, cê tem que ser chato, cê tem que saber tudo. Não.
Mas o estudo vai possibilitar que quando ela chegar aos 17 anos, ela possa escolher.
Eu já deixei você se dar mal porque eu estava com raiva e queria te dar uma lição.
Mentira! Mentira! (Já!)
(Por quê) Já, lógico que já.
Pai, você é ridículo, não gostei... (Vai...)
Eu tenho mais bom gosto do que você em relação a maioria das coisas...
Óbvio que sim.
Óbvio que sim, eu tenho o gosto muito bom. (Não, já começa pelo funk. Cê quer que eu continue por onde, agora?)
Isso aí... isso aí é preconceito seu! (Você sabe que não é legal... Mas não é uma coisa forçada. Eu não fico: "cê tem que ouvir isso! Não pode ouvir aquilo!"
Senão é bem capaz de ela continuar só ouvindo aquilo, né?
Eu tenho muito medo de te decepcionar. (Nossa, eu quero saber o que que cê vai por.)
Ah, achei que cê ia por não.
Eu conheço um pouco você pelo menos, né?
Nas notas...
Porque ele vive reclamando disso...
E aí eu fico, tipo, sei lá, com medo de decepcionar ele com outras coisas também, tipo...
Com a minha mãe, porque eu brigo muito com a minha mãe, e ele sempre fala: não briga com a sua mãe.
Toda vez que eu vou pra casa dela, ele: não briga com ela! E toda vez eu brigo com ela... E acho que é só isso mesmo.
Ser seu pai me fez enxergar as mulheres de uma forma diferente.
Sim, porque você vê a minha bipolaridade e a minha TPM de perto...
Não! (Sim!) Não, não é isso... A gente vive numa sociedade que tem um patriarcado extremamente forte.
A família da minha mãe é formada basicamente por mulheres, e a gente vê o quanto a questão do machismo, ela é...
Fortíssima dentro da sociedade. Como eu, com o papel de estar criando ela sozinho, pô, eu me sinto muito no dever
de entender um pouco mais a relação desse patriarcado, dessa questão dessa sociedade machista, pra poder passar pra ela,
pra ela não ter que depender de ninguém, não depender de mim, não depender de um futuro marido...
Acho que esses valores são, no mínimo, o que me faz mudar, o que me fez mudar ou estar tentando melhorar em relação a essa questão do sexismo.
Eu tenho medo que você cresça e me esqueça.
Óbvio que sim! (Tenho não! Nem um pouquinho, na verdade.) Ai! Por que não?
Por quê? Você vai me esquecer?
Talvez, depois dessa...
Não sei, talvez...
Não, legal, meu! (A vontade de socar surgiu várias vezes porque ele me cortou uma vez, eu quis socar um pouquinho, mas tudo bem!)
Não, mas achei legal... É bem elucidador, né, vamos dizer assim, né? (Fala em uma palavra que as pessoas normais entendam...)
Todos eles estão entendendo o que eu tô falando. (Não é não! Não é não! Não é não!)
Cê entendeu? Ah...
Cê entendeu? Ah! Tá bom, mas eu não entendi!
Esclarecedor, vai...
Ah, mas eu não entendi! (Tá bom, esclarecedor, vamo lá...) Tá bom, agora as pessoas entenderam...
Não me olha assim...
Vai chorar?
Pára! Ridículo!
O pai te ama muito! Mais do que tudo! (Pára!)
Muuuuito! (Pára!)
Cê não me ama?
Ai, pai, que ódio!
Cê precisa chorar, mesmo... (Ah, você é ridículo!)
Não ri, eu tô chorando!