Brasileiros falam quais são as ideias mais erradas sobre as pessoas de seu estado
Oxente, bichinho. Tu é de Recife, é?
Os brasileiros em geral sabem muito pouco sobre o meu estado.
Sim, sabem muito pouco.
Sim!
É, eu acho que está correto, né? O pessoal tem muitas crenças sobre o Rio Grande do Sul, né?
Pra nós, gaúcho é tudo loiro, do olho azul, esnobe e rico. Eu digo: é, sou eu, loira, do olho azul, esnobe e rica, né, percebe-se.
Essa daqui é muito... nossa, acho que é o mais clichê de todos.
Algumas pessoas vêm em termos de brincadeira: ai, como que você veio pra São Paulo, veio de pau de arara?
Lá vocês jogam futebol com côco seco, lá vocês comem carne de baleia...
Pra todo mundo aqui, pro mundo todo, baiano é preguiçoso. Só sabe de Carnaval, praia e de festa.
Tem essa coisa de ficar sempre com chimarrão pra lá e pra cá...
É uma coisa que eu faço, minha família faz, mas tem muita gente, por exemplo, da minha geração, meus amigos, que já não chegam
e não vão oferecer o chimarrão assim que a pessoa chega.
Curitiba tem algumas culturas que as pessoas acham que curitibano é antipático, que o curitibano não gosta de sol, que o curitibano só sabe comer pinhão...
E não é bem assim, a gente também gosta bastante de capivara, a gente tem bastante parques lá, e as pessoas julgam muito Curitiba por ser muito antipático,
e eu não concordo muito, não. Um pouco, sim, um pouco, sim, mas não muito.
Eu vou afirmar, no caso, né, porque acho que vindo pro Sudeste, até visitando o Sul, você conversando com outras pessoas, as pessoas perguntam de onde você é...
Aí quando eu falo: a Ilha de Marajó... Aí muitas pessoas não conhecem, mas quando eu falo Pará, aí todo mundo lembra Belém, açaí, peixe frito...
E aí a gente chega num consenso, mas acho que a maioria, assim, desconhece. Sempre traz mais a memória do Nordeste do que do Norte.
Acham que meu estado é só praia, curtição, e tal... De fato, é um lugar paradisíaco, é considerado o paraíso das águas, mas não é só praia.
O Brasil é muito grande, né, então eu vejo que há uma diferença muito grande entre as regiões, entre o Centro, entre o Sudeste, o Sul, o Nordeste...
Cada um tem uma visão de cada um que muitas vezes é uma visão estereotipada e errada, né?
Eu sei que os brasileiros conhecem muito sobre Goiás, mas têm muito a conhecer ainda.
É, realmente, às vezes os brasileiros não sabem muito sobre Minas Gerais... Só acha que a gente é o caipira que está ali com o cigarrinho de palha do lado da boca,
no cantinho, e que só come pão de queijo. E não é bem assim, a gente é mais do que o pão de queijo e o cigarrinho de palha.
A gente não é só cantor sertanejo e mato, não...
A gente é inteligente, vamos dizer assim, né? Não é porque a gente mora em interior que a gente é menos culto do que as pessoas dos outros estados.
Bem, é mentira. O Rio de Janeiro é o cartão-postal do Brasil, né? Tem no clipe da Anita, está em todo lugar,
Carmen Miranda já falava, todo mundo lembra do Corcovado.
Hum... eu discordo, porque eu acho que o que tem mais são estereótipos, né? Tá bom que eu sou um deles, que é essa artistinha, assim, tatuada, descolada...
Os brasileiros, eu acho que não conhecem São Paulo de verdade.
Ainda mais porque eu acredito muito nessa fama de São Paulo de ser essa cidade que, se você vim, você vai ter emprego, por exemplo.
Que não é, né? Não é bem assim... E se é pra muitos brasileiros, tipo essa chance de sair do interior e tals, são muitas vezes esse emprego que é bem precário,
e que não vai te fazer sair do sistema capitalista, que só vai te fazer trabalhar pra pagar conta, mesmo, e continuar assim...
Então eu acho que tem muita coisa pra conhecer em São Paulo que não é... não é dito, mesmo, assim...
As pessoas acham que só porque tem praia no meu estado, todos nós vivemos na praia.
Isso é negativo, porque as praias do Paraná são ruins demais, demais. Tanto é, que tão ruim que é a praia do Paraná,
que as pessoas já acham que Santa Catarina faz parte do Paraná por causa das praias, porque as praias do Paraná são muito ruins...
Tem uma praia lá que chama Matinhos... E Matinhos é mato na areia, assim, ó, você anda na areia, você pisa, é grama, embaixo areia.
É um negócio assustador, é muito estranho.
É, o pessoal na verdade esquece que o Rio Grande do Sul tem praia, né? O pessoal pensa que todo mundo vive no inverno, lá, né.
Que vive na neve, vai pra Gramado o ano inteiro, tem neve. Mas nós temos praias, só que pela questão climática não dá sempre pra ir pra praia, óbvio, né?
Sim! Gente, não... Eu acho que eu já saí... eu só não saí na porrada, assim, mas já tive briga feia de falar assim, velho, por que que você acha que eu vivo na praia?
Tipo, o meu trabalho é igual ao seu trabalho, a gente precisa trabalhar, se não trabalhar, a conta vai chegar. Literalmente, né?
A gente sabe que o mar tá ali, então tipo, a qualquer momento eu vou, mas as coisas vão passando, várias coisas, e termina que nem sempre a gente vai à praia.
Quando a gente quer tomar banho no mar gostoso, de fato, a gente pega aí uma horinha de estrada, vai no Porto de Galinhas, a gente vai numa praia de Muro Alto,
Carneiros, tem uma infinidade de praias muito boas a duas horinhas de distância, né? Então, eu não sei de onde que saiu essa ideia de que a gente vive dentro da praia.
Pra ser muito sincera, eu, enquanto moradora de Recife, tomei banho muito pouco na praia de Boa Viagem,
principalmente depois que fiquei mais velha, porque você não tem tempo, você leva uma vida como a de qualquer outra pessoa,
que você precisa trabalhar, que você precisa resolver seus problemas e ninguém fica indo pra praia a hora toda.
O jeito que os outros se referem às pessoas do meu estado é muito irritante.
Ah, cara, eu discordo, porque eu acho que quem se importa... acho que quem se importa não tem senso de humor, sabe?
Tudo bem que falam que em São Paulo as pessoas são meio ignorantes, não sei... Eu acho, sinceramente, que é mais um estereótipo do Centro,
assim, meio, Paulista, esses bairros mais de gente nariz em pé, assim...
Não, não, acho, porque normalmente as pessoas se referem às pessoas de Minas Gerais com muito carinho.
Entendeu, dificilmente eu fui a algum lugar assim que eu fui rejeitada, ou que o pessoal me olhou torto por conta de eu ser mineira.
Pelo contrário, na hora que você fala que você é mineira, aí que o pessoal se abre mesmo e é mais legal, que o pessoal gosta das pessoas mineiras
pela receptividade que a gente é. Você acaba de conhecer a pessoa, você já chama pra dentro da sua casa, então isso assim às vezes até quebra barreira,
que aqui em São Paulo, por exemplo, o pessoal é mais fechado, mas na hora que você já começa, se você puxa prosa,
a galera já se abre e aí você já consegue ficar mais amigo. Você vai no Rio de Janeiro, eu, por exemplo, sou flamenguista, eu vou muito pro Rio de Janeiro,
que eu vou ver jogo. Na hora que chega lá, que a pessoa ainda fala que é mineira, aí o pessoal gosta mesmo, porque aí já fala: pô, mineiro que
curte flamengo, que gosta de vir ver jogo, é bem legal isso, acho que nesse ponto não acho irritante, não.
Eu acho que não, acho que o paraense assim, ele é uma pessoa, como posso dizer, acho que não vou usar a palavra correta, mas como se fosse atirado, assim...
Sabe, tipo, chega chegando, fala mesmo o que tem que falar, e as pessoas gostam, né, dessa liberdade assim de você chegar
usar o seu sotaque e as gírias do Pará, sem medo, sabe, de ser julgado por outra pessoa de uma outra região do país.
Não, não acho que seja irritante. É que eu acho que as pessoas, elas têm uma intenção boa, a maioria delas,
mas elas acabam caindo num estereótipo muito forçado, de que porque... é uma coisa que eu vejo, tá?
A gente tem muitos comediantes que são do Nordeste, né, muitos que vêm do Ceará, e tal. E, por conta disso, as pessoas acabam já fazendo uma ligação
de que todo nordestino é engraçado... Sim, nós somos um povo de bom humor, de fato, mas isso é muito de cada pessoa.
O que eu não gosto, geralmente, é que as pessoas tentam... colocam no bolo a questão do baiano preguiçoso, que eu não gosto,
jamais, desse tipo de estereótipo, de que a gente vive na praia, que a gente não trabalha, porque a gente vive na praia,
tipo assim, a gente trabalha como qualquer pessoa, né, então isso é uma coisa que me irrita, é pressupor que a gente não leva uma vida séria
porque a gente tem uma praia urbana, por exemplo, né? Quando eu percebo que a pessoa fala nessa entonação, né,
com essa relação, né, de preguiça ou de falta de vontade, de fato me incomoda um pouco.
Sim, todo mundo acha que carioca é malandro, que carioca vai ganhar vantagem, e não é assim, né?
O pessoal também acha que o carioca tá sempre disposto pra uma festa, que todo carioca sabe sambar, que todo carioca sabe dançar funk...
Não é assim, gente, assim, cada um tem sua tribo lá no Rio de Janeiro, mas eu não gosto da forma como acham que todos nós somos iguais...
Não somos iguais, somos diversos.
Nós não somos preguiçosos, nós só sabemos viver. E viver muito bem.
A gente tem a distração, a gente tem o trabalho, a gente tem tudo. Eu morava a uma quadra da praia, então para eu ir e vir do trabalho, eu passava pela orla.
Então, isso não faz de mim mais ou menos preguiçoso.
Com certeza, porque é muito essa visão assim, de que o gaúcho é estúpido, de que o gaúcho é esnobe, de que o gaúcho é isso, é aquilo.
Então, eu acho que é uma visão... pessoalmente, comigo, nunca aconteceu de alguém vir me dizer, ah... ou me destratar por ser gaúcha, né.
Mas eu sei que existe essa visão de que o gaúcho é muito... é muito egocêntrico, talvez seja a palavra, né?
E o que me deixa feliz é que, normalmente, quando eu encontro com pessoas que em algum momento pensaram assim, elas me dizem que eu consegui fazer
elas mudarem a perspectiva que tinam do Rio Grande do Sul.
Talvez seja, talvez seja um pouco irritante... porque... porque as pessoas acham que o curitibano, ele só sabe falar leite quente, entendeu?
Acho que teve um cara que foi entrevistado em algum jornal do Brasil que falou "leite quente, leite quente, dor de dente"...
Aí todo mundo acha que nóis fala assim, mas não é bem assim.
A gente fala certo, como eu falei, mas irrita um pouquinho porque as pessoas tentam imitar e às vezes não conhecem muito.
Mas, basicamente irrita um pouco, irrita um pouco, sim. Não muito como tá escrito aqui, mas irrita um pouco, sim.